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A ação transformadora do cristão leigo no mundo


Devemos encorajar os leigos da nossa Arquidiocese, homens e mulheres, que tenham disposição para a vida política, para que nela ingressem com o objetivo de servir à sociedade como autênticos cristãos.

O Decreto Apostolicam Actuositatem, do Concílio Vaticano II, versando sobre “O Apostolado dos Leigos”, chama a atenção dos leigos para a sua missão na Igreja e no mundo. Diz o Decreto: “Faz-se pois mister que os leigos assumam a renovação da ordem temporal como sua função própria e nela operem de maneira direta e definida, guiados pela luz do Evangelho e pela mente da Igreja, e levados pela caridade cristã. Cooperem como cidadãos com os cidadãos, com sua competência específica e responsabilidade própria. Procurem em toda a parte e em tudo a justiça do reino de Deus. De tal sorte deve ser reformada a ordem temporal, que conservando-se integralmente suas leis próprias, se conforme aos princípios mais altos da vida cristã e se adapte às condições diferentes dos lugares, tempos e povos” (Nº 1359).

A ordem temporal de que nos fala o Concílio é, como sabemos, o mundo, a vida civil, a sociedade na qual nós vivemos. Aos leigos cabe participar ativamente da vida civil, a exemplo do que já fazem na vida eclesial. A ação dos leigos na vida civil deve ser direta e constante, de tal modo que o mundo possa ser transformado por meio dessa ação. Transformação que deve ter por base os princípios da vida cristã, os valores da moral e da ética que o cristianismo ajudou a moldar ao longo dos séculos.

Na vida civil situa-se a vida política. Como disse o filósofo grego Aristóteles, o homem é um ser da polis, ou seja, da cidade, um ser político. E, assim, o homem age e interage na vida social. Os leigos devem ser encorajados a ter militância política, como eleitores ou como candidatos a cargos eletivos. É preciso que as pessoas de bem, que possam agir sem visar sobremaneira o bem próprio, atuem na vida política, exercendo com hombridade os cargos que por ventura lhes venham a ser confiados pelo povo. Que possam atuar nos cargos legislativos e executivos, para o alcance do bem comum, lutando contra a injustiça a impunidade, a exploração do homem pelo homem e, em especial, a corrupção em todos os seus níveis e em todas as suas formas.

É dever de todos nós cristãos sabermos escolher os nossos representantes, os nossos mandatários, a fim de que a sociedade possa ser governada por homens e mulheres dignos e dignas, que alicercem sua atividade política, legislativa e executiva, nos valores do Evangelho de Jesus Cristo. Não se trata de criar uma teocracia. Não é isso. Trata-se de dotarmos a sociedade de pessoas que nos possam conduzir para o desenvolvimento e para o progresso, considerando a necessidade de fazer-se justiça social, sem cair no clientelismo barato que ajuda a manter o populismo que desgasta a Nação, que entorpece o povo e que sobrevive à custa das camadas mais pobres da população, quando não lhes são dadas verdadeiras oportunidades de mobilidade social ascendente. E, mais ainda, quando lhes são tirados direitos fundamentais.

Os leigos são chamados a uma manifestação lúcida e firme na vida política municipal, estadual e federal. Como eleitores e, se for o caso, como candidatos. O Documento 105 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, sobre os “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade”, elenca alguns modos de atuação do leigo como sujeito eclesial. Um deles diz que o leigo deve dar “testemunho, como presença que anuncia Jesus Cristo, em cada lugar e situação onde se encontra, a começar pela família” (Nº 244, “a”). Ora, meus irmãos e minhas irmãs, nós sabemos que a família é o esteio da sociedade, a célula mãe, como nos ensinaram os romanos. E dela, como instituição emanada da vontade do Criador, devemos cuidar com o maior zelo possível, buscando como modelo aquela família de Nazaré da Galileia, no seio da qual o Verbo de Deus se fez carne para habitar entre nós.

Dentre outros modos de afirmação da ação transformadora do cristão leigo no mundo, diz-nos o Documento 105, que se deve fazer uso da “ética e da competência, no exercício de sua própria atividade profissional, contribuindo, assim, de modo pessoal ou coletivo, para a construção de um mundo justo e solidário” (Nº 244, “b”): E diz, mais, o Documento 105, que se faz preciso usar “os meios de organização e atuação na vida cultural e política, tendo em vista contribuir para a transformação da sociedade e a construção do mundo justo, sustentável e fraterno” (Nº 244, “f”).

São João Paulo II nos ensina que “ao descobrir e viver a própria vocação e missão, os fiéis leigos devem ser formados para aquela unidade, de que está assinalada a sua própria situação de membros da Igreja e de cidadãos da sociedade humana” (Christifideles Laici, Nº 201). O leigo, pois, está na Igreja e no mundo. Aqui e ali, ele exerce a sua missão. E deve exercê-la com dignidade.

Não se deve dissociar a ação eclesial do leigo da sua atuação na vida civil. Nesse sentido, afirma o Documento de Aparecida: “A construção da cidadania, no sentido mais amplo, e a construção de eclesialidade nos leigos, é um só e único movimento” (Nº 215). Na Igreja e no mundo, o cristão leigo deve ter uma só cara, um só modo de vida, centrado na experiência da vida cristã.

O Papa Francisco, discorrendo sobre os critérios gerais da ação transformadora, afiança-nos: “A ação evangelizadora inclui a opção preferencial pelos pobres, a solidariedade, a defesa da vida humana, especialmente onde ela é negada ou agredida. Defende a dignidade da pessoa humana, o cuidado com a criação, a inclusão social, a justiça e a paz, a liberdade religiosa, o direito de objeção de consciência” (Evangelii Gaudium, Nº 206).

Diz também o Papa Francisco: “Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente a sanar as raízes profundas e a não aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (EG, Nº 290).

Por fim, devemos encorajar os leigos da nossa Arquidiocese, homens e mulheres, que tenham disposição para a vida política, para que nela ingressem com o objetivo de servir à sociedade como autênticos cristãos. E que não se aproveitem dessa sua condição de cristãos para se elegerem e, uma vez eleitos, se associarem aos políticos que envergonham a Nação e que tiram das pessoas, especialmente, das mais pobres, o que elas têm de mais precioso, dentre outros atributos: a esperança e a dignidade.

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