Romaria do Senhor dos Passos em São Cristóvão: Denúncia, Fé e devoção
Mais um ano que comprova que a fé é algo transcendente entre o individuo e Deus. É uma força que comove, alimenta e inspira a pessoa na busca pelo seu desejo de intervenção divina para a cura de uma doença, para a felicidade almejada, o reencontro de um ente querido, para a graça de um emprego alcançado, em fim, o desejo realizado ou a realizar.
A procissão do Senhor dos Passos, em São Cristóvão, realizada no dia de ontem, 25 de fevereiro, alcançou, mais uma vez, uma presença estrondosa de pessoas devotas, muitas já haviam chegado à sexta-feira, mas é a procissão do encontro das imagens do Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores, o ápice da festa, talvez pela correlação da dor de Nossa Senhora e o sofrimento de Jesus, o Senhor dos Passos, que carrega sua cruz em direção ao calvário, como também as angustias e dores de cada fiel que ali vai pedir para lhe dar força para vencer ou agradecer por ter vencido seu próprio calvário.
O Arcebispo de Aracaju, dom João José Costa, que presidiu a missa de encerramento da Romaria do Senhor dos Passos, falou da importância da festa. “É a história consolidada da religiosidade do nosso povo. A devoção ao Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores é algo que vai se fortalecendo a cada dia por ser, sem dúvida, a grande expressão da nossa fé católica. Jesus Cristo que carregou os nossos sofrimentos, as nossas cruzes, carregou também os nossos pecados, morreu para nos salvar. Os fiéis olhando para o sofrimento de Cristo se identificam com seus próprios sofrimentos”, ressaltou Dom João.
Diante da multidão, no sermão do encontro, uma voz profética, do Frei Carmelita, Sergioney Anselmo da Silva, Pároco em São Cristóvão, ecoava e recebia aplausos por denunciar as mazelas da política que acabam refletidas nas dores e sofrimentos do nosso povo. Detalhe, muitas das grandes lideranças políticas do nosso Estado estavam, em seus grupos, no meio da multidão ou na sacada do Museu de Sergipe.
“O Senhor dos passos não foi morto porque foi piedoso, religioso, ou porque não foi ao templo, ou porque não rezou, ele foi morto porque disse a verdade. E nesse quadro que se descortina diante de nós e que deve nos incomodar, mexer não somente com as estruturas externas, dentro de nós algo deve incomodar, pois vivemos tempos sombrios, tempos difíceis, os nossos pobres clamam por libertação. Os pobres estão cada vez mais pobres, os direitos têm nos sido roubados, como foram roubados os direitos do Senhor”, enfatizou o Frei.
Continuando sua forte homilia, acrescentou: “A maioria dos políticos não cuida do que é do povo, só pensa em si próprio. As pessoas não aguentam mais o quadro da injustiça e da maldade do ser humano. Ninguém quer perder ou tirar um pouco do seu, os juízes não querem abrir mão de auxílio moradia, mesmo tendo casa para morar”, denunciou o Feri Sergioney, que chamou o povo para contestar todas essas mazelas. “Foi por motivo de justiça, porque disse que isso estava errado que o Senhor morreu e nós que enchemos esta praça temos também que dizer que isso está errado e precisa mudar”, bradou o Frei.
Após o sermão, a multidão seguiu o cortejo, rezando, cantando e agradecendo ao Senhor dos Passos. Pessoas de vestimenta rocha, pés descalços, terço nas mãos ou com suas roupas normais ampliavam o mar de devotos que cobria o chão da histórica cidade de São Cristóvão.