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O adeus a Dom Luciano Duarte


A Igreja Católica de Sergipe entregou a Deus um dos seus membros mais destacados de todos os tempos. Como todos o sabem, na última terça-feira, dia 29, partiu para a Casa do Pai Eterno, após uma longa enfermidade, que durou duas décadas, o nosso Arcebispo Emérito, Dom Luciano José Cabral Duarte.

Ordenado padre a 18 de janeiro de 1948, pelo então Bispo Diocesano de Penedo, Dom Fernando Gomes, a partir dali, aos 23 anos de idade, as suas mãos sagradas passariam a consagrar. Sempre destacado com os primeiros lugares desde o curso primário, galgou o doutorado na Universidade de Sorbonne, na França, quando foi laureado, tal era a sua erudição e inteligência rara.

O acadêmico Cabral Machado, no discurso de recepção a Dom Luciano, na Academia Sergipana de Letras, disse que se nele “há ardências de combatividade, há também dedicações de samaritano”. Ninguém jamais pôde negar-lhe o zelo pela Igreja e a dedicação em servir.

Em 1951, ao fundar a Faculdade Católica de Filosofia, Dom Fernando Gomes, agora Bispo de Aracaju, entregou a direção daquela instituição de ensino superior ao jovem padre Luciano Duarte, então, com apenas 26 anos de idade. Era, sim, muito jovem, para galgar aquela posição, mas, era, também, o melhor nome que o clero sergipano tinha para tão honroso e nobre encargo. Dali em diante, o padre Luciano só fez crescer na Igreja e na admiração de todos que o conheciam mais de perto. Tornou-se o líder, o guia intelectual e espiritual, de uma geração de jovens atrelados à Juventude Universitária Católica – JUC –, e que, em grande parte, formaria, mais tarde, uma plêiade de professores universitários, especialmente após a instalação da Universidade Federal de Sergipe, em 15 de maio de 1968.

E foi exatamente Dom Luciano um dos mais destacados pilares, senão o maior de todos, da criação da Universidade Federal de Sergipe. Incansável batalhador pela nossa Universidade, Dom Luciano teve que enfrentar adversidades e adversários que se punham contra a forma jurídica concebida por Dom Luciano para a Universidade, desde um anteprojeto cuja elaboração ele comandara. Enfim, venceu a ideia de Dom Luciano e a UFS foi, então, criada e instalada.

A sua atividade educacional o levou da Faculdade Católica de Filosofia para a Universidade Federal de Sergipe e para o Conselho Federal de Educação, onde ele teve uma atuação acentuadamente destacada por vários anos. Na Igreja, a sua vocação para lidar com

os grandes feitos o conduziria a ter atuação discutida, mas, respeitada, na CNBB, ao ponto de ser eleito vice-presidente do CELAM – Conselho Episcopal Latino-Americano. Não era pouca coisa para o Arcebispo sergipano, diante de tantos nomes consagrados do episcopado da América Latina.

Atento à Doutrina Social da Igreja e aos ensinamentos tomistas, Dom Luciano buscou um rumo decisivo para trabalhar pelos pobres. Dedicou-se a fazer uma reforma agrária diferente do que preconizavam os líderes camponeses da época, entre as décadas de 1960 e 1970. Assim, começou uma luta incontida para distribuir terras aos camponeses, nas fazendas adquiridas, às vezes com apoio governamental, na PROCHASE. Foram cinco fazendas, em municípios da Cotinguiba, com área total de 3.343 hectares, distribuídos entre 260 famílias. Fugindo das agitações próprias da época, Dom Luciano fez, ao seu modo, distribuição de terras entre pessoas realmente carentes.

Bispo-auxiliar de Dom José Vicente Távora, a partir de 1966, com a morte deste, em 1970, Dom Luciano tornar-se-ia o novo Arcebispo de Aracaju, de 1971 a 1998, quando foi sucedido por Dom Lessa. O lema episcopal de Dom Luciano foi: “Sei em quem acreditei”. Com esse lema, o nosso Arcebispo Emérito, que nos deixou, tomando o rumo da Casa do Pai, procurou viver a sua vida de Ministro de Deus, de sucessor dos apóstolos de Jesus Cristo.

Aliás, disse Jesus aos seus apóstolos: “Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais” (Jo 14,1-3).

Na Casa do Pai há muitas moradas. Uma dessas moradas, com certeza, estava reservada para Dom Luciano. Se falhas ele cometeu, na sua condição humana, como é próprio de todas as pessoas, menos de Jesus Cristo, Deus saberá lhe perdoar. Muito mais grandiosa foi a sua vida de acertos, de luta incessante pela afirmação da Palavra de Deus, dos ensinamentos do Filho Unigênito, Jesus Cristo, da tradição apostólica e do magistério da Igreja.

Aqui, na Terra, nós perdemos o nosso Arcebispo Emérito. Mas, o Céu o ganhou. Que Deus o tenha na sua maior consideração. Oremos por Dom Luciano José Cabral Duarte, como ele mesmo orou tanto por todos e, em especial, pelas vocações sacerdotais, ao criar a oração que ainda hoje nós repetimos.

Deus, nosso Pai, esteja com Dom Luciano e com todos nós.

#DomLucianoDuarte

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