A vida acima de tudo
Ceifar a vida em formação é um ato abominável. As famílias, a sociedade e o estado têm o dever de defender o direito à vida em todas as suas circunstâncias.

Para nós cristãos, a defesa da vida deve estar acima de tudo e sob as bênçãos de Deus. Quando Jesus Cristo disse “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10), Ele lançou, muito mais do que um ensinamento, um dever para todos os seus seguidores. A vida é um dom de Deus para cada homem e para cada mulher. E sendo um dom, não deve ser renunciado, nem retirado. Logo, ninguém tem o direito de sacrificar nenhuma vida humana, em nenhum estágio em que ela se encontre.
Celebrar a vida é render louvores ao Criador, que nos colocou no mundo como premissa maior do seu amor. Deus nos fez à sua imagem e semelhança. Desfigurar a vida sob qualquer forma, é atentar contra a potestade divina. É ir de encontro ao ponto mais elevado da criação. A vida deve ser preservada. Deve ser defendida a partir da forma de vida intrauterina.
Se nós não defendermos a vida, se nada fizermos para que as consciências de todas as pessoas despertem para a necessidade de se sentirem responsáveis pela vida, estaremos fugindo ao nosso dever de cristãos e de cristãs no sentido de propagar o Evangelho de Cristo.
Não pode haver nada mais sublime do que a conjugação de dois seres para que possa dar vida a um novo ser. “Crescei e multiplicai-vos”, disse o Senhor (Gn 1,28). Afora aqueles que se consagram à vida celibatária, como os padres e as freiras, ou pessoas outras que, fora da vida religiosa, optaram por não conceber filhos, o homem e a mulher devem ter a responsabilidade de assumir as consequências de seus atos carnais, quando deles advém a concepção de filhos, que devem ser recebidos como a ramificação do amor de Deus em nós. É dessa forma que o homem e a mulher contribuem para dar sequência ao ato criador do nosso Deus. Sublime é o ato criador. Sublime é a criação continuada.
Deus dotou o homem e a mulher de livre arbítrio, ou seja, da liberdade de escolha. Porém, isso não significa que as pessoas têm a liberdade de cometer todo tipo de ato que possa contrariar a ordem natural das coisas. A liberdade das pessoas deve ser exercida dentro de princípios de harmonia. É assim que a vida deve ser preservada para que a harmonia da criação seja mantida. Nesse sentido, os cristãos, verdadeiramente cristãos, não podem nem devem compactuar, por exemplo, com a prática do aborto.
Etimologicamente, abortar, em termos da obstetrícia, significa interromper a vida humana intrauterina. É fazer expelir o feto indefeso do útero materno, retirando-o do aconchego do ventre para a perversidade da morte. O aborto, então, pode ser definido como a morte de uma criança no ventre de sua mãe produzida durante qualquer momento da etapa que vai desde a fecundação (união do óvulo com o espermatozoide) até o momento prévio ao nascimento.
Cientificamente, fala-se de aborto espontâneo quando a morte é produto de alguma anomalia ou disfunção não prevista nem desejada pela mãe; e de aborto provocado (que é o que costuma ser entendido quando se fala simplesmente de aborto) quando a morte do bebê é procurada de qualquer maneira: doméstica, química ou cirúrgica.
Os defensores da prática do aborto procuram encobrir sua natureza reprovável mediante a terminologia confusa ou evasiva, ocultando o assassinato do bebê em plena formação com o jargão da “interrupção voluntária da gravidez”, ou sob conceitos como “direito de decidir” ou “direito à saúde reprodutiva”. Entretanto, nenhum destes artifícios da linguagem pode ocultar o fato de que o aborto é, sim, um infanticídio.
A Igreja Católica atenta à Palavra de Deus, defende e há de defender sempre a vida humana desde a sua concepção. Afinal, nós lemos o que o salmista diz em sua oração a Deus: “... pois a fonte da vida está em Ti, e com tua luz nós vemos a luz” (Sl 36,10). É a mais absoluta verdade que Deus é a fonte da vida. E que a nossa luz é a luz que vem de Deus. A vida é a plenitude da luz no mundo. E a ninguém foi dado o direito de apagar essa luz.
Além de nós católicos, os irmãos protestantes e espíritas unem-se em favor da vida, em defesa do direito inalienável que o feto tem de se desenvolver e, afinal, de o bebê vir à luz do mundo, para também ser luz.
Ceifar a vida em formação é um ato abominável. As famílias, a sociedade e o estado têm o dever de defender o direito à vida em todas as suas circunstâncias. Têm o dever de assegurar as condições materiais, morais e psicológicas para que as mulheres, especialmente as mais jovens, se sintam amparadas, respeitadas e amadas na sua condição de futuras mães.
O aborto é um dos caminhos que conduzem à morte. Matar é, religiosamente, um pecado. Matar é, moralmente, um ato reprovável. Matar é, juridicamente, um crime. E, sendo espiritualmente pecado, a morte deve ser evitada e combatida por todos os cristãos e por todas as cristãs. Assim sendo, devemos lembrar dessas palavras do apóstolo Paulo: “Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus” (Rm 6,11).
Enfim, defender a vida é viver para Deus.