Dom Luciano Duarte, o homem da palavra e da ação

Permanecem registrados em nossa memória alguns aspectos do homem que marcou a vida do povo sergipano por mais de três décadas, à frente da Igreja particular de Aracaju: Dom Luciano Duarte. Lembremo-nos de sua esplêndida arte oratória, que não era apenas uma locução culta e bem articulada das palavras, mas era também, como disse Sócrates a Ion, referindo-se ao seu dom de bem falar: “[...] não uma arte, mas uma força divina”.
“Força divina” são palavras que exprimem razoavelmente o dom sobrenatural que Luciano Duarte possuía quando, assim, proferia suas palavras e anunciava a Boa Nova de Jesus Cristo. Quando ele falava, tudo ganhava vida, se coloria, e o coração era elevado a patamares de onde um mundo novo se abria. Mais de uma geração passou desde que o então Arcebispo aracajuano renunciara à Cátedra Arquiepiscopal, em 1998, embora suas palavras continuassem a ressoar além do tempo e do espaço no coração dos
fiéis.
A beleza de sua arte oratória exprime a magnitude incomensurável de um homem distinto por sua inteligência e sabedoria. Ainda como padre, exercendo o ministério na Capela de São Salvador, Luciano Duarte deu início à Faculdade de Filosofia (FAFI), na década de cinquenta, época em que o acesso ao Ensino Superior era escasso, quase inexistente no Estado de Sergipe. Com sua bicicleta, o jovem padre, culto e sonhador, saía pelas ruas de Aracaju, buscando recursos e professores para o ousado projeto. Mais tarde, a FAFI fora integrada à Universidade Federal de Sergipe (UFS), que também fora um monumento promovido pelo Arcebispo, de venerável memória, nos tempos em que exercia o cargo de Presidente da Câmara de Ensino Superior, em 1963. Outro aspecto que não podemos deixar de rememorar foi a sua doação ao serviço dos mais pobres e esquecidos do Estado, quando, no final da década de sessenta, ainda como Bispo Auxiliar da Arquidiocese, ouvindo o clamor do povo marginalizado, e sensibilizado com o sofrimento dos seus, idealizou a “Promoção do Homem do Campo de Sergipe” (PRHOCASE), que durou de 1968-1988, beneficiando mais de cinco mil pessoas sem terra na Região do Vale do Cotinguiba.
Dom Luciano Cabral foi homem firme nas convicções de Fé. Exemplo disso, foi sua efervescente defesa à Fé Católica, em todos os tempos, sobretudo no cenário nacional, nas décadas de setenta e oitenta, período em que existiam dúvidas e confusões acerca de questões teológicas que, inclusive, foram esclarecidas pela Doutrina da Fé, que tinha à frente, como Prefeito, Joseph Ratzinger, que, em 2005, se tornou Bento XVI, Papa. Naquele tempo, Dom Luciano Duarte assumiu, abertamente, a posição de defender o Papa, a Igreja de Cristo e o Magistério. Marcante exemplo aconteceu com a
clara defesa ao Papa João Paulo II, quando o mesmo foi caluniado por grupos católicos contrários a algumas medidas por ele realizadas conjuntamente à Congregação da Doutrina da Fé. Assim escreveu o prelado sergipano, Dom Luciano, no artigo publicado em “O Estado de São Paulo”: “Peçam perdão por terem imaginado levantar uma lista de um milhão de assinaturas de contestadores de João Paulo II. E se, apesar do apelo, o fizerem, saibam que nós, os católicos da eterna Igreja de Jesus, de Maria e de Pedro, dobraremos o número e levantaremos dois milhões de assinaturas de apoio, de fidelidade e de amor ao Papa e à Santa Sé”.
Por conseguinte, sempre dócil às dores e às necessidades do povo cristão, firme na defesa da Fé, Dom Luciano está eternizado na história da Arquidiocese de Aracaju, pois, igualmente, estará presente na vida daqueles que optarem por unirem a Fé à ação voltando-se aos mais pequeninos.
Descanse em Paz, Dom Luciano Duarte, amado Arcebispo Emérito!
Seminarista Thiago Menezes Santos (1º Ano de Teologia)