A Sabedoria
A Sabedoria vinda de Deus não morre jamais, como atesta a Palavra: “A Sabedoria é radiante, não fenece, facilmente é contemplada por aqueles que a amam e se deixa encontrar por aqueles que a buscam".

O livro da Sabedoria foi escrito em grego, não integrando o chamado cânone hebraico, ou seja, não foi escrito em Israel, mas, sim, por um judeu de língua grega, um judeu da diáspora. São Jerônimo fez-lhe oposição e outros hesitaram em usá-lo, mas o referido livro já era usado pelos Padres da Igreja, valendo dizer, pela Patrística, desde o século II da era cristã. Assim, foi reconhecido como de inspiração divina da mesma forma que os livros do cânone hebraico.
Em grego é chamado de Sabedoria de Salomão. Até parece que teria sido escrito por este rei de Israel, filho de Davi, como se pode perceber pelo capítulo 9, versículos 7-8, que dizem: “Escolheste-me como rei de teu povo, como juiz de teus filhos e tuas filhas. Mandaste-me construir um templo em teu santo nome e um altar na cidade onde fixaste a tua tenda, cópia da tenda santa que preparaste desde a origem”. Se no texto falta explicitar o nome de Salomão, não há dúvida sobre quem construiu o templo em Jerusalém.
Na primeira parte, o livro que, na Vulgata, é chamado simplesmente Liber Sapientiae, mostra o papel da Sabedoria no destino da humanidade e compara a sorte dos justos e dos ímpios durante a vida e após a morte (capítulos 1 a 5). A segunda parte (capítulos 6 a 9) expõe a origem e a natureza da Sabedoria e os meios para adquiri-la. A terceira e última parte (capítulos 10 a 19) exalta a ação da Sabedoria e a de Deus na história do povo eleito.
O autor é certamente um judeu, que demonstra sua plena fé no “Deus dos Pais” (9,1), orgulhoso de pertencer ao “povo santo”, à “raça irrepreensível” (10,15), mas trata-se de um judeu helenizado, como dizem as notas introdutórias da versão chamada Bíblia de Jerusalém.
Alguns exegetas bíblicos consideram que o livro da Sabedoria tenha inspirado São Paulo na parte literária e que São João tenha tomado dele certas ideias para construir sua teologia do Verbo, como se encontra tão bem constituída no prólogo do seu Evangelho.
Acredita-se que o livro da Sabedoria tenha sido escrito na segunda metade do século I antes de Cristo, constituindo-se no mais recente livro do Antigo Testamento.
A autoria do livro da Sabedoria não vem de um filósofo, nem de um teólogo, porém, sim, de um verdadeiro sábio de Israel. Exorta a busca da sabedoria que vem de Deus, que é obtida pela oração, que é fonte das virtudes e que alcança todos os bens. Discorrendo sobre a imortalidade da alma, afirma que Deus criou a espécie humana para a incorruptibilidade (2,23), que a recompensa da sabedoria é exatamente essa incorruptibilidade que assegura ao fiel um lugar junto a Deus (6, 18-19).
Assegura que o que se passa aqui na terra é uma preparação para a outra vida, quando os justos viverão com Deus, mas os ímpios receberão seu castigo (3,9-10). A exemplo dos livros anteriores, a Sabedoria é um atributo de Deus. Foi esta Sabedoria que comandou tudo desde a criação e é ela que conduz os acontecimentos ao longo da história. A Sabedoria se identifica com
Deus em sua regência do mundo.
A Sabedoria é “uma emanação puríssima da glória do Onipotente”, “um reflexo da luz eterna”, “uma imagem de sua bondade” (7,25-26). Ela aparece como distinta de Deus, mas é ao mesmo tempo uma irradiação da essência divina. O poder divino que age no mundo é identificado com o Espírito ou sua Sabedoria.
A Sabedoria é plena de pureza, impregnando as almas benignas: “A Sabedoria não entra numa alma maligna, ela não habita num corpo devedor ao pecado” (1,4).
Quem busca a Sabedoria é justo diante de Deus e, portanto, gozará das delícias da eternidade, pois assim diz a Palavra: “Mas os justos vivem para sempre, recebem do Senhor sua recompensa, cuida deles o Altíssimo” (5,15).
A Sabedoria vinda de Deus não morre jamais, como atesta a Palavra: “A Sabedoria é radiante, não fenece, facilmente é contemplada por aqueles que a amam e se deixa encontrar por aqueles que a buscam. Ela mesma se dá a conhecer aos que a desejam. Quem por ela madruga não se cansa: encontra-a sentada à porta. Meditá-la é a perfeição da inteligência; quem vigia por ela logo se isenta de preocupações; ela mesma busca, em toda parte, os que a merecem; benigna, aborda-os pelos caminhos e a cada pensamento os precede. Seu princípio é o desejo autêntico de instrução, o afã da instrução é o amor, o amor é a observância de suas leis, o respeito das leis é garantia de incorruptibilidade e a incorruptibilidade aproxima de Deus. Portanto, o desejo da Sabedoria conduz à realeza. Chefes dos povos: se vos aguardam tronos e cetros, honrai a Sabedoria e reinareis para sempre” (6,12-21).
Nestes tempos de corrida eleitoral, no nosso estado e no nosso país, quem almeja os votos do povo deve entregar-se à busca da Sabedoria, e não da esperteza. Deve desejar servir ao povo, e, mais de perto, aos menos favorecidos, através de políticas públicas que sirvam para promover o homem integral e integrado, como explicita a Doutrina Social da Igreja.