Celebração de Todos os Santos
Que o Cristo Jesus, em cujo sangue nós lavamos as nossas impurezas e imperfeições, nos ajude em nossa caminhada santificante.

Buscar a santificação, eis o que nos é devido fazer, como cristãos e cristãs, tementes a Deus, nosso Criador e Pai. Fomos feitos à imagem e à semelhança de Deus, diz-nos a Sagrada Escritura (Gn 1,26), para que possamos buscar a nossa santificação. Exatamente para sermos santos é que Deus nos exorta: “Sou eu, Iahweh, que vos fiz subir da terra do Egito para ser o vosso Deus: sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11,45).
As palavras imagem e semelhança usadas juntas no texto do Gênesis nos passam a ideia de similaridade. No início da criação, Deus criou toda a natureza e os animais. Essa primeira parte da criação não é mencionada como tendo similaridade especial com Deus. Deus a fez através de Sua palavra criativa. No entanto, já sobre a criação do ser humano, vemos que existe algo a mais, a similaridade com o próprio Deus.
Mas, o que significa sermos a imagem e a semelhança de Deus? Isso tem intrigado a todos e, especialmente, os exegetas bíblicos. O texto sagrado não nos revela isso em detalhes. Todavia, bem observando o texto, podemos levantar algumas hipóteses interessantes que se harmonizam com os relatos bíblicos. Antes, porém, é preciso recusar qualquer hipótese que nos aponte como sendo uma espécie de semideuses. Não o somos.
Ser a imagem e semelhança de Deus não significa que somos pequenos deuses, e nem que temos qualquer poder soberano independente em nós. Também não significa aparência física, como se Deus tivesse um corpo físico como o nosso. Essas hipóteses são facilmente rejeitadas de acordo com a Bíblia.
Então, ser a imagem e semelhança de Deus parece nos apontar para características de Deus que vemos reveladas na Bíblia e que também são encontradas nos seres humanos por Ele criados. Vejamos algumas dessas características:
Capacidade de pensar: dentre toda a criação de Deus, somente os seres humanos têm a capacidade do pensamento racional e lógico, de refletir sobre si mesmos, de saber e entender as coisas de forma profunda, de entender a própria vida e o próprio raciocínio. É certamente uma característica de Deus dada a nós em uma escala menor.
Capacidade criativa: como Deus, nós também temos em nós a capacidade para criar coisas. É claro que criamos a partir daquilo que já foi criado, mas é uma capacidade que só encontramos no Criador e que, certamente, faz parte de sermos à imagem e semelhança de Deus.
Capacidade de avaliação: nós temos em nós essa grande capacidade de julgar o que é certo ou errado. Apesar de termos alguns instintos em nós, não somos como os animais que agem apenas baseados neles. Nós temos a capacidade de avaliar, de julgar, de observar. Essa capacidade vemos em Deus, que age baseado na justiça e na retidão.
Essas três características citadas são possibilidades. Certamente, sermos feitos à imagem e semelhança de Deus não se resume apenas a elas, mas elas nos dão uma ideia do que pode ser essa similaridade que temos com Deus.
Devemos ter em mente que Deus nos fez especiais, que Deus nos valorizou diante de todo o resto da criação, e que Ele nos ama de forma especial e trata a nossa vida como algo precioso.
É preciso considerar o seguinte: o pecado desfigurou a beleza de sermos criados à imagem e semelhança de Deus. É por isso que, como seres humanos, contrariamente a toda a possibilidade que Deus nos deu, agimos de forma errada, irracional, contrária a toda a beleza de sermos à imagem e semelhança de Deus, que nos foi dada quando fomos formados. Perdemos muitas das preciosas características que tínhamos. Essa imagem foi manchada.
Por isso, Deus enviou seu Filho ao mundo, Jesus Cristo, para nos restaurar: “Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Col 1,15). Jesus é Deus, por isso, é a imagem perfeita do próprio Deus. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus” (Jo 1,1-2).
A missão do “Verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) também consiste em restaurar a nossa vida para que voltemos a nos aproximar de ser à imagem e semelhança de Deus, através da restauração que Jesus nos proporcionou na cruz: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:29).
Por tudo isso, e muito mais, nós somos chamados a ser santos.
A Igreja Católica no dia 1º de novembro celebra o Dia de Todos os Santos, mas liturgicamente, a comemoração foi transferida para o domingo próximo, quando o dia 1º cai noutro dia da semana.
Segundo a tradição, ela foi colocada nesse dia, logo após 31 de outubro, porque os celtas ingleses – pagãos –, celebravam as bruxas e os espíritos que vinham se alimentar e assustar as pessoas nesta noite (a noite do Halloween).
No dia dedicado a Todos os Santos, a Igreja militante (que luta na Terra) honra a Igreja triunfante do Céu, celebrando, numa única solenidade, todos os Santos como diz o sacerdote na oração da Missa, para render homenagem àquela multidão de Santos que povoam o Reino dos Céus, e que São João viu no Apocalipse: “Ouvi, então, o número dos assinalados: cento e quarenta e quatro mil assinalados, de toda tribo dos filhos de Israel” (Ap 7,4). “Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão” (Ap 7,9). “Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14).
Na Exortação Apostólica “Gaudete et Exsultate” o Papa Francisco alerta-nos para a chamada à santidade no mundo atual. E diz:
“Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho ao serviço dos irmãos. És progenitor, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais” (N. 14).
Que na celebração de Todos os Santos, nós possamos rogar a Deus, Pai de bondade e misericórdia, que proteja o Brasil, dando-nos o rumo certo em busca de dias melhores para o povo, e, mais de perto, para os que esperam por uma vida mais digna e por justiça social.
Que o Cristo Jesus, em cujo sangue nós lavamos as nossas impurezas e imperfeições, nos ajude em nossa caminhada santificante.