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As virtudes do justo José


No próximo dia dezenove, solenemente, a Igreja celebra São José, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. Com títulos tão excelsos, não poderemos nos limitar em chamá-lo “guardião zeloso da Sagrada Família” e “patrono da grande família de Deus, a Sua Igreja”. Mas, com a proximidade da festa, debrucemo-nos sobre o seu silêncio e a sua ação, tratando sobre as suas virtudes.

A virtude (do latim, virtus: força) em São José já é constatada pela maneira como a Escritura, ao apresentá-lo, denomina: justo (cf. Mt 1,18). Ainda chamo, caro leitor, a sua atenção para outro termo que o define, desta vez na sua hombridade: ‘vir’ (de virtuoso) também designa homem. Homem justo; homem santo; homem que encontra em Deus a sua força. Tais características incutem-nos da vida de São José o seu itinerário no processo de resposta a Deus no grave chamado feito para ser “custódio do Cristo”, enviado, pelo Pai no Espírito Santo, para guardar o mundo do mal, do pecado, dando à humanidade a Sua graça. Entretanto, não imaginemos que São José tenha vivido as virtudes somente em momentos estanques, pontuais, sabendo desenvolvê-las no que chamamos de peregrinação no desenvolvimento da fé. Percebamos, por exemplo, como o Santo Patriarca, homem de profundo silêncio, sem entender muita coisa, mas ardente de caridade por Maria, não querendo expô-la ao escândalo, resolve ocultar-se em fuga. Como, atento à voz divina, abraçou a Virgem como esposa, emprestou nome Àquele que é o Nome sobre todo nome (cf. Fl 2,9), abdicando de seus planos para o futuro. Sem medo de errar, afirmo: José viveu os valores do Pai-Nosso, o “seja feita a vossa vontade”, antecipadamente, quando se abandona aos planos de Deus; e isto buscou fazer todos os dias, humildemente, pondo-se sob a poderosa mão divina.

O Bispo francês, Jacques Bossuet, contempla José como virtuoso, comparando-o com os homens tresloucados do século XVII, não muito diferentes e nem mais graves da humanidade atual, que tem o hábito de “entregarem-se totalmente às coisas exteriores e descuidarem as interiores, trabalharem contra o relógio; aceitarem a aparência e desprezarem o que é efetivo e sólido; preocuparem-se muito com o que parecem e não pensarem no que devem ser. Por isso as virtudes que se apreciam são essas que entram em jogo nos negócios e no comércio dos homens; pelo contrário, as virtudes interiores e ocultas de que o público não participa, em que tudo se passa entre Deus e o homem, não só se seguem como nem sequer se compreendem. E no entanto, é nesse segredo que reside todo mistério da virtude verdadeira [...] José, homem simples, procurou a Deus; José, homem desprendido, encontrou a Deus; José, homem retirado, gozou de Deus” (Segundo panegírico de São José, exórdio).

Ninguém, entretanto, imagine que, o que ouve e busca seguir o chamado de Deus, tal como José o fez, tem uma vida excepcional. É na vida comum, ordinária, que a resposta se dá e se desenvolvem as virtudes por Ele concedidas. Neste pensamento, São Josemaría Escrivá, ao fazer uma relação entre cotidianidade e a vida virtuosa do Santo Carpinteiro de Nazaré: “José era efetivamente um homem comum, em quem Deus confiou para realizar coisas grandes” (É Cristo que passa, 40). E é para esta conjugação que deveremos empreender, segundo as virtudes, os nossos afazeres diários.

Os méritos josefinos eram discretos, silenciosos. Provam-nos as Escrituras que não escutam dos lábios do pai nutrício do Salvador uma só palavra sequer, mas percebe a eloquência dos seus qualitativos, caracterizando-o com o máximo elogio daquela arcana cultura: José é justo. Tal como o sal, cujos grãos se perdem no cozimento, na água, mas se apresenta no sabor, também ajamos na modéstia de costumes eivados pela fé, conforme o Santo que homenageamos, segundo as virtudes que Deus inspira ao coração do cristão.

Padre Everson Fontes Fonseca é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Mosqueiro.


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