Como o fiel deve portar-se na Missa? (Parte II)

Na continuidade do que, na semana passada, começamos a refletir sobre a postura do fiel na Santa Missa, seguimos a falar acerca do silêncio sagrado durante, não somente as celebrações, mas tudo o que dissermos sobre a quietude na Missa, aplicamos, igualmente, à permanência no recinto sagrado do templo católico.
A suavidade de sons e emoções na Missa já eram previstas, em sinais prefigurativos, no Antigo Testamento: “Depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna” (1Rs 19,12-13). E porque Elias agiu assim? Porque reconheceu o Senhor na brandura da brisa, e não nos estardalhaços do furacão ou no ardil do fogo. E como estava Elias antes de sentir o Senhor pela via da doçura? Desanimado pelas perseguições da vida, pedindo, a Deus, a sua própria morte. Por vezes, também nos encontramos assim, combalidos, e o fato de estarmos diante Daquele que convida a que depositemos Nele os nossos pesos e acharemos, sempre Nele, restauro, restabelecendo as nossas forças.
O silêncio. Ah, o silêncio! Tão necessário no máximo encontro da humanidade com Deus, como se configura a Santa Missa. O grande Cardeal guineense Robert Sarah nos ensina: “A liturgia [grifo nosso: em especial a Santa Missa] é um momento em que Deus deseja estar, por amor, em profunda união com os homens. Se vivemos na verdade esses instantes sagrados, podemos encontrar Deus [grifo nosso: e O encontramos de fato!]. É preciso não cair na armadilha de reduzir a liturgia a um simples lugar de convívio fraterno. […] A missa não é um espaço em que os homens se encontram num fútil espírito de festa. A liturgia é uma grande porta que se abre para Deus e que nos permite sair simbolicamente de entre os muros deste mundo. […] A celebração da Eucaristia requer primeiro um grande silêncio, um silêncio habitado por Deus” (Deus ou Nada, p. 157). Não nos esqueçamos: a liturgia é feita para Deus, e não uma realidade de humanos e subjetivos atrativos; Deus deve ser o seu centro, e não o homem e seus possíveis ‘eus’, ainda que problemáticos e carentes. Caso contrário, Deus se tornará, dentro da liturgia que Lhe deveria ser oferecida, o grande ausente.
O silêncio sempre foi e será prezado na vida espiritual da Igreja, principalmente em nossas celebrações. Prova-nos isto, o testemunho que São Leonardo de Porto Maurício dá de Cesário, Bispo de Arles, do século V. Afirma São Leonardo que, quando São Cesáreo celebrava, “virava-se para o povo e o exortava a um piedoso recolhimento e impunha a todos guardar o mais rigoroso silêncio, não só proibindo a menor palavra, mas ainda […] fazer qualquer outro ruído. E era obedecido. Quem quer que assistisse à Santa Missa do santo Bispo, sentia-se tomado de profundo respeito e comovido até ao fundo da alma, tirando assim grande proveito e acréscimo de graças”.
Silenciar é uma atitude de interioridade. Não basta que apenas os lábios deixem de fazer qualquer sussurro: é preciso que silenciemos o coração de tantas distrações, das pressas em estarmos na igreja e das orações malfeitas, de pensamentos alheios à grandeza de Deus, que nos fala mormente em Sua Casa Santa. No templo, deveremos nos desligar de todo e qualquer afeto e preocupação exterior, para que nada nos detenha na subida de nosso interior a Deus. Este é, portanto, o real significado daquela ordem de Jesus no Sermão das Bem-Aventuranças: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á” (Mt 6,6), porque a oração é um ato de intimidade e comunhão com Deus.
Sejam as nossas assembleias mais orantes, para que sirvam de maior proveito as graças imensas, infinitas, que nos são concedidas em cada Missa, a começar pela grande graça de ver Deus, de comungá-Lo, de entrarmos na Sua vida divina com a nossa existência nesta carne.
Padre Everson Fontes Fonseca é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição (Mosqueiro, Aracaju).