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A água é Cristo, o Crucificado



Sugestivo e alentador é o convite do Senhor, quando, pelo profeta Isaías, nos diz: "Ah! Todos os que estais com sede, vinde às águas!" (Is 55,1); ou o próprio Jesus, no discurso à Samaritana: "Aquele que beber da água que eu darei, nunca mais terá sede, mas a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna" (Jo 4,14). Mas, que água é essa apontada, também, pela profecia de Zacarias: "Naquele dia, haverá uma fonte acessível à casa de Davi e aos habitantes de Jerusalém, para ablução e purificação" (Zc 13,1)?


A água é o próprio Jesus. Crucificado, Ele nos lava; de Seu peito aberto, aquela água, aquele Sangue, que Lhe brotam, nos reconciliam com o Pai, purificam-nos numa ablução insuperável de limpidez e de candura interiores. E não apenas nos purificam, como também nos saciam a sede espiritual, a nossa secura, irrigando nosso coração. A água é Cristo, ferido de morte, chorado pelos que O amam, dolorido, consternado por nossas culpas, por causa de nós.


Nesta visão de Cristo-Fonte que jorra para a vida eterna, é que o Salmo 62 falará em ânsia, em sede, em satisfação da alma que busca, numa procura incessante, o Senhor: “Minha alma tem sede de ti; por ti deseja minha carne, numa terra deserta, seca, sem água” (Sl 62,1). E o interessante: por mais que Cristo seja a fonte, e nós, os sedentos, bebendo do Seu divino Peito, saciados da água que Lhe jorra, não conseguimos mais nos desvencilhar de estar unicamente neste manancial perene, vivificante, revigorante, de maneira que, tudo o que é alheio a Ele torna-se estranho para nós, poluído, portanto. E, aqui, vem-me à mente a experiência mística do Profeta Ezequiel, ainda no Antigo Testamento, mas já em referência a Nosso Senhor Jesus Cristo: "Todo ser vivo que se move poderá viver onde quer que o rio chegue, e haverá peixes em abundância, pois onde chega aquela água tudo será saneado e viverá. [...] Nas margens junto ao rio, de um lado e do outro, crescerá toda espécie de árvores frutíferas, e suas folhas não caírão, e seus frutos jamais terminarão. [...] Seus frutos servirão de alimento e suas folhas de remédio" (Ef 47,9.12).


Este é o Cristo crucificado, repito. E, indagando os Seus discípulos sobre quem era e a missão do Messias-Salvador (cf. Lc 9,18-27), previne-os sobre a Cruz - a Sua, pessoalmente falando, aquela redentora -, de como seria a Sua glorificação, e de como, ainda, cada cristão é convidado à participação do Seu sacrifício crudelíssimo: cabe-nos carregar a nossa cruz, na maioria das vezes, incruenta no sangue, mas sofrida no dia-a-dia, renunciando-nos, marginalizando de nosso interior todo e qualquer apego, para que nada nos detenha de, nos nossos ressecamentos, fartarmo-nos de Cristo-Fonte. Este é o anúncio ininterrupto da Santa Igreja Católica: "Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios [para os pagãos]. Para os que são chamados, [...] Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus, pois o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte que os homens" (1Cor 1,23.24.25).


Não rejeitemos, jamais, beber da fonte divina, a nós destinada, que sacia, vivifica e faz-nos frutificar para a eternidade: Cristo Crucificado.


Padre Everson Fontes Fonseca é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro (Aracaju).

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