A alegria da conversão

“E nós, que devemos fazer?” (Lc 3,14). Esta pergunta sempre é pertinente ao cristão na sua ascensão, alegre e otimista, ao céu.
“Que devemos fazer?” (Lc 3,10). Conversão e alegria: atitudes que prescindem uma da outra. Para o cristão, a mudança radical em sua vida exigida pelo Evangelho de Jesus, como prerrogativa de um real acolhimento do Cristo que está às portas, a conversão é um movimento interior alegre porque se esmera para atingir a altura da vida do próprio Cristo em si. No dizer do Papa São Paulo VI, parafraseando Santo Tomás de Aquino, o homem chegará a conhecer “a alegria e a felicidade espiritual quando o seu espírito entra na posse de Deus, conhecido e amado como bem supremo” (Exortação Apostólica Gaudete in Domino, 6). Logo, o nosso coração só estará cheio de alegria se, pelas constantes atitudes de arrependimento das imperfeiçoes e de reconciliação com Deus, estivermos em estado de graça, possuídos por Deus e, simultaneamente, possuindo-O como o único necessário.
Dizem que o rei Carlos IX da França, dirigindo-se ao poeta italiano Torquato Tasso, sincero homem de fé, indagou-lhe sobre quem seria o ser mais feliz. Sem pestanejar, respondeu-lhe o poeta: “Deus!”. O rei rebateu: “Isso eu sei. Mas, gostaria de saber quem é o ser mais feliz sobre a terra”. E o poeta: “É simples: o mais feliz é o homem que procura aproximar-se o mais possível de Deus, ou seja, o homem virtuoso”. Conto-lhes tal historieta para afirmar, com veemência, que a fonte da alegria verdadeira, do regozijo que o nosso ser sempre busca, é Deus.
O mistério da alegria no coração humano que se deixa cativar por Deus é, mesmo sem entender, aproveitar as dificuldades e agruras que o Senhor, em Sua admirável providência, nos consente a que atravessemos para que sejamos limpos, dignificados, purificados, reerguidos após as demolições de tudo aquilo que é preponderante, obstáculo à graça divina em nosso interior. Assim, nada deverá fazer frente ao acolhimento Daquele que veio, que virá e sempre nos vem, “para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu Reino” (Prefácio do Advento IA: Cristo, Senhor e Juiz da história).
“Mestre, que devemos fazer?” (Lc 3,12). Esta questão levantada a João Batista deverá ser o repetido conteúdo da nossa oração a Deus, pedindo-Lhe a graça da perfeição. E a este pedido, a alegria invadir-nos-á se fizermos a nossa parte na mudança em nós mesmos. Lembremo-nos de que, para a exortação à alegria no Senhor, São Paulo, escrevendo aos Filipenses, falando-lhes da iminente chegada do Cristo, ordena a que os cristãos O precedam com a prática do bem (cf. Fl 4,5), e, dessa forma, os seus corações estarão em paz (Fl 4,7).
O cristão que conjuga a conversão à alegria, no mundo, é sinal de Cristo, tal como João Batista, confundido como sendo o Messias (cf. Lc 3,15). Que também nos confundam, por causa dos nossos gestos arraigados no bem, com o Senhor! Independentemente de quem sejamos na vida da Igreja e nas engrenagens dos sistemas deste nosso difícil tempo, aguardar o Cristo, acolhê-Lo e imitá-Lo com atitudes concretas de conversão é uma urgência que recai sobre todos os batizados, que deverão levá-las a bom termo, com regozijo indescritível, pois isto é alegrar-se sempre no Senhor (cf. Fl 4,4).
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru)