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A Ascensão de Cristo é também nossa



Diante da ascensão do Senhor ante os anjos e a humanidade estupefatos, creio que nos cabe uma pergunta: por que Jesus subiu ao Céu?


Primeiramente, para responder tal questionamento, valho-me do Prefácio da Missa da Solenidade da Ascensão do Senhor I, onde Lemos: “Vencendo o pecado e a morte, vosso Filho, Jesus, Rei da Glória, subiu [...] ante os anjos maravilhados ao mais alto dos céus. E tornou-se o mediador entre vós, Deus, nosso Pai, e a humanidade redimida, Juiz do mundo e Senhor do universo. Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade”. O trecho desta oração revela-nos, portanto, a natureza da subida de Jesus e a sua conveniência em fazê-lo. E é justamente sobre isto que refletiremos neste nosso artigo.


A Ascensão não é um simples trânsito do Senhor Jesus, uma mudança de espaço. Ressuscitado, Cristo “deu início a uma vida imortal e incorruptível”, nos revela Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica, que continua: “e o lugar em que habitamos é lugar de geração e de corrupção, ao passo que o lugar celeste é um lugar de incorrupção”. Subindo ao Céu, com o Seu próprio poder de Deus, o Cristo eleva Consigo a nossa humanidade. Considerando assim, o fato da Ascensão do Senhor comporta a subida, o triunfo de Sua Igreja. E nós, membros desta mesma Igreja pelo Santo Batismo, já nos encontramos ascendidos em potencial e atualmente, porque a Igreja é, no dizer de São Paulo, Corpo Místico (cf. 1Cor 12,27) d’Aquele que subiu ao Céu, para a Sua Glória. Também em Cristo, Deus que também possui a natureza humana, e nos nossos irmãos que já nos precederam pela morte e estão no Céu, a Ascensão do Senhor é garantia da nossa vocação celeste, nossa esperança de participar da vida eterna.


Cristo não subiu para junto do Pai para que ficássemos privados da Sua presença. Muito embora o Seu Corpo humano não esteja mais entre nós, a Sua presença divina permanece em nosso meio, é constante entre os fiéis pelo Espírito Santo: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20). Esta ausência corporal é de maior utilidade para nós porque alimenta em nós as virtudes da fé, da esperança e do amor. Esta falta física do Senhor, ainda nos presenteia com a vinda do Espírito Santo, que nos faz amigos de Deus (cf. Lc 1,3), porque o poder do Paráclito, prometido por Jesus, fará de nós Suas testemunhas.


O Senhor subiu ao Céu para, no Seu trono eterno de Glória, ser pontífice entre Deus e os homens, tal como o Seu Sacerdócio igualmente eterno nos alude. Pelo Seu Sangue, o Cristo faz de nós herdeiros da promessa de salvação. Esta verdade já nos é apresentada pela Carta aos Hebreus, que a chama de ‘esperança’: “Esperança esta que seguramos qual âncora de nossa alma, firme e sólida, e que penetra até além do véu, no santuário onde Jesus entrou por nós como precursor, Pontífice eterno, segundo a ordem de Melquisedec” (Hb 6,19-20).


Cristo Jesus, Juiz do mundo e Senhor do universo, assenta-se à direita do Pai, trono que nunca havia deixado pela Sua divindade. A diferença está que, com a Sua ascensão, Ele leva Consigo a nossa humanidade redimida. Não vejamos como alheia a nós a profundidade do que diz São Paulo escrevendo aos Efésios sobre o poderio de Cristo, porque o Apóstolo mesmo afirma, antes da descrição da glória do Senhor: “Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente” (1,18-19).


Que sintamos a vitória da Ascensão de Jesus como nossa. Nele, somos vencedores. A vida humana que Ele transporta às alturas é a nossa certeza do Céu, onde o Seu reinado eterno já é nosso e o será em definitivo quando, ascendidos, gozarmos da plenitude celeste para todo o sempre. Amém.

Padre Everson Fontes Fonseca é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro (Aracaju)

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