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A caridade de Pedro e Paulo



Neste domingo, a Igreja no Brasil comemora, numa só Solenidade, os grandes baluartes da Santa Igreja Católica: São Pedro e São Paulo, Apóstolos. E, nesta feita, quero refletir acerca do desenvolvimento na caridade ocorrida na vida destas duas colunas da Fé.

Tomemos Pedro, o primeiro dentre o Colégio Apostólico. Nas margens do Mar da Galileia, recebeu ele, do próprio Senhor, um chamado de amor. Naquela pregação inédita sobre a barca de Simão (que mais tarde será a Barca-Igreja), houve o despontar de um processo profundo que lhe marcou toda a vida. E do espanto da pesca milagrosa, passou à nobre missão: a de pescador de homens (cf. Lc 5,1-11).

O amor petrino desenvolveu-se. E, falando em desenvolvimento, não significa dizer que este foi como uma reta ascendente, sem curvas nem declínios. Não. O amor de Pedro, muito embora aumentasse, também teve os seus momentos de crise. E o mesmo que, por exemplo, confessou a divindade do Cristo, e, por isso, foi elogiado e feito pedra de edificação de Sua Igreja, pelo pensamento aquém da missão do Salvador, a quem reconhecera Cristo, foi chamado satanás e pedra de tropeço. O mesmo que, no momento de abandono dos outros seguidores, foi capaz de dizer: "A quem iremos, Senhor?! Somente tu tens palavras de vida" (Jo 6,68), ou ainda: "Senhor, eu estou pronto a ir contigo para a prisão e a morte" (Lc 22,33), é o que nega o Senhor por três vezes, afastando-se Daquele a quem jurava ser o sentido da sua existência.

Pedro, homem de crises e superações. Quando não reconheceu o Ressuscitado que aportava às margens da Galileia, quando daquela pesca pascal e milagrosa (cf. Jo 21,1-14), reconhece-se imperfeito no amor, mas aberto a amar: "Senhor, tu sabes tudo; sabes que te amo" (Jo 21,17). Por isso, foi-lhe confiada a missão de apascentar o rebanho de Deus, a Sua Igreja. E este amor não somente se delineou na relação com Jesus, como também foi exalado na vida de tantos e na vida da própria Igreja. Por exemplo: quando de Pentecostes, após um discurso inflamado de amor, batizando mais de três mil pessoas (At 2,14-36); ou a resposta cheia de amor que deu ao paralítico da Porta Formosa, quando, fixando o olhar, lhe diz: "Ouro e prata não tenho. Mas, o que tenho te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda" (At 3,6).

O amor em Pedro deu-lhe coragem de enfrentar diversas provações e sofrimentos. E o que dissemos acerca do valor do amor do Papa Pedro aplica-se ao ardor de Paulo, que, de perseguidor do Evangelho, se tornou perseguido.

Paulo, cujo chamado é, esplendidamente, marcado pela Luz divina e pela cegueira do homem. Saulo (cf. At 9,1-25), que muda até de identidade por causa do novo homem gerado no amor previdente de Cristo, faz um belo balanço do seu profundo sentimento transformado em zelo: "[...] pelos trabalhos, pelas prisões, por excessivos açoites; muitas vezes em perigos de morte. [...] inúmeras vigílias, fome, sede, frequentes jejuns, frio e nudez; e sem falar de outras coisas, a minha preocupação de cada dia, a solicitude por todas as igrejas" (2Cor 11,23.27-28). O seu amor comporta heroísmo e um autorreconhecimento de fraqueza, porque sabia que a força de Cristo habitava em si. Por isso, confessava: "Com efeito, quando sou fraco, então sou forte" (2Cor 12,10).

A caridade do Apóstolo dos Gentios também comportava o perdão e a compaixão com as falhas alheias, corrigindo-as. Prova-nos as diversas exortações em suas cartas, inclusive aquela dirigida a Pedro, quando este se deixou levar pela dissimulação (cf. Gl 2,11-14). E mais: típico de quem ama, não se comedia em declará-lo, classificando o amor como a mais alta das virtudes (cf. 1Cor 13,13).

O amor de Pedro e de Paulo os levou ao martírio. E o rubro dos seus sangues derramados, intrepidamente, testemunham a profundidade e a seriedade de crescerem neste mesmo sentimento. O vermelho dos seus sangues é avivado pelo valor do amor. É por isso que a Sagrada Liturgia entoa: "Ó feliz Roma, por precioso sangue / cingida assim de púrpura e nobreza; / não por ti mesma, mas por tal martírio, / o mundo inteiro excedes em beleza". Rezemos também pelo Sucessor de Pedro, o Papa Francisco, para que, mesmo peneirado por satanás, pelos diversos sofrimentos que enfrenta, não tenha a sua fé desfalecida, mas nos confirme como a irmãos (cf. Lc 22,31).

Padre Everson Fontes Fonseca é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro (Aracaju).

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