A doação de nossa vida e do que temos

Neste domingo, 17, a Igreja celebra o Dia Mundial do Pobre, conclamado pelo Santo Padre, o Papa Francisco. Assim, pensemos como a nossa vida é um verdadeiro dom, um presente da parte de Deus, de tal modo que, adicionada a fé, ela é fundamental a nós e aos outros. Se recebemos de Deus a vida, porque não O retribuir da mesma forma: com a nossa vida disposta à sua vontade e ao socorro do próximo?
“Deus ama a quem dá com alegria” (2 Cor 9,7). E, mediante esta alusão, São Paulo esclarece como deve estar o interior daquele que dá a Deus: sem tristeza, sem murmurações, sem constrangimentos, não como se fosse uma obrigação enfadonha… mas, na confiança. Deus, na exigência do Seu amor, pede-nos a vida. Mas, este pedido é acompanhado de uma promessa de felicidade eterna: “Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna” (Mc 10,29-30; Mt 19,29).
Este movimento de dar o melhor é encabeçado pelo próprio Deus, que nos concedeu a Si mesmo para resgatar o que, antes, nada valia: a humanidade. E isto o faz como sacrifício. A entrega de Jesus, o Filho dado pelo Pai à humanidade no Espírito Santo, é propícia à salvação. A Sua doação é promotora de vida. Não é marcada pela neutralidade da aridez, tampouco pelo negativo de frutos produzidos por vanglória, porque é uma entrega autêntica, e não aparente, sorrateira.
O livro dos Provérbios começa uma sentença: “Quem se apieda do pobre empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício” (Pr 19,17). O nosso povo, na sua simplicidade, irá traduzir isso, quase que em cópia, com o dito: “Quem dá ao pobre empresta a Deus”. Uma das maneiras de darmos a Deus o que lhe cabe é por meio das Obras de Misericórdia Corporais: dar de comer a quem tem fome, albergar quem não tem teto, vestir os nus, visitar os doentes e os presos, sepultar os mortos. Tais atitudes não é dar ao próximo o que nos sobra; porém, num caráter de heroísmo – quem sabe –, dar o que temos e que poderá nos fazer falta. Daí, é que temos, do Concílio Vaticano II, a catequese: “É obrigação de todo o Povo de Deus […] aliviar na medida de suas forças a miséria dos tempos atuais e isto, como era costume antigo da Igreja, não só com o supérfluo, mas também com o essencial” (GS 89-90). Por isso é que nós devemos exercitar em nossa Igreja, em nossos lares, não apenas nesta ocasião, mas constantemente, tal prática. Porque, tal como o Senhor Jesus nos advertiu, Ele se faz presente no pobre, no faminto, no sedento, no nu, no doente, no estrangeiro, no preso, enfim, nos sofredores.
O que damos a Deus? Se Lhe damos, oferecemos o que é acessório ou o essencial? Ao lado do grandíssimo dom de nossa existência, ponhamos ao dispor de Deus também os nossos bens, sempre confiando em Sua Providência. Se tudo vem Dele, porque não O devolvermos, generosamente, nas situações em que Se faz mais presente: nos pobres, especialmente?
Reflitamos e aliviemos tantos sofrimentos com a força da caridade cristã que pulsa em nosso coração, dando ao pobre e emprestando a Deus.
Padre Everson Fontes Fonseca é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição (Mosqueiro, Aracaju).