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A era do vazio religioso?


Li esse texto do padre Soares há pouco. Consta no Facebook do autor. Ele não colocou título, ousaria colocar eu, um sempre aprendiz, de sua provocadora e necessária reflexão. 


Falta Espírito Santo, falta honestidade intelectual, falta base e sobra mentira no meio dito cristão católico. Raros têm profundidade bíblica, raros são honestos. Raros seguem Revelação, Tradição e Magistério. Repito e digo: fora do CV II não há Igreja, sem comunhão com Francisco não há catolicidade. 


A Igreja é una, pois encerra em si e no peito aberto de Jesus todas as expressões que crêem em Jesus de Nazaré e também quem não crê. 


Falta-nos muito para entrar na Escola do Bom e Belo Mestre. Estamos vivendo dias duros e nossas Igrejas e Pastores estão muitos sem norte. 


Ouvia de um sábio frade menor: temos templos e presbitérios cheios de massa religiosa, uma confusão mental, uma confusão teológica, uma aberração litúrgica. E não somos Povo de Deus? Ainda não. Somos massa religiosa.  Sobra devoção vazia, sobra mentira, sobra fake news. Eis a era da Infocracia!!! Estamos na geração do oba-oba. Da falta de pertença, do caos político. 


Precisamos ler Metz, aquele teólogo enjoado que líamos em Teologia Fundamental! Das mortes balizadas pelos heróis da morte de parte do ufanismo católico, dos falsos heróis de hábitos vazios, da falta de profundidade humana. Nós precisamos mudar a rota e voltar a Jesus, na profundidade da leitura do Evangelho. 


Não podemos nos calar, temos que jogar amor nas nossas comunidades. Jogar os documentos do Celam e suas Conferências. Quem esteve na Europa e conhece a história sabe que por lá o caos humanitário e religioso já pesa demais. Os templos gloriosos e belos são habitados por turistas e espectadores da arte, e que bom. Falta diálogo com o mundo atual. E, por favor, meus amigos e amigas, não me venham dizer que o modernismo afrontou a Ecclesia. Não. O paganismo entrou na Ecclesia. O mundo sempre é arma para os apologetas do vazio, que sentam nas cadeiras esplêndidas das cúrias mundo afora. 


Precisamos, em Jesus, mudar essa rota. Precisamos rever muita coisa. E precisamos ser honestos. Honestidade no Espírito Santo. 


Vou encerrando minha viagem eclesial e sonho com Francisco: uma Igreja pobre para os pobres e livre das amarras do Estado. Que solapa a voz profética da Igreja…


E nunca esqueçamos que o abuso eclesial começa com o autoritarismo em nome da fé. Temos muita gente desnorteada e fora do eixo humano em nossas comunidades. Consequências: evasão das Igrejas. Guerra de poder. Formação defasada. Violência religiosa em nome de Deus e de todas as benesses do mundo. As catedrais já não tocam mais os seus sinos. O mundo ao seu redor é frio e vazio. Quem habita numa Igreja assim? Os poderosos deste mundo. E ao redor delas só há gente com fome e frio que serve de tapete humano para que os grandes da corte façam festa e abusem da autoridade política e religiosa para dizer que eles podem tudo. São donos do mundo e do sagrado. Ah, Francisco é um luzeiro grande nesse tempo escuro e baixo em que vivemos. 


Geralmente quem vive na mentira e no autoritarismo vazio vai dizer que nosso Papa é o culpado do caos. Eles devem lembrar, parafraseando o velho Soares, que a "fumaça de satanás" existe desde a idade da pedra e não a partir do Concílio Vaticano II. Não sejamos ingênuos, vamos partir de Cristo para propor uma Igreja menos triunfalista e mais humana. Sem medo do afeto e mais em saída. Sugiro ler: Palavra de Deus. CV II. Conferências do Celam. Catecismo. Documentos do Magistério de Francisco. E bons romances dos grandes da história. E ainda sentar no divã e rir da vida. E propor inclusão e respeito no nosso vocabulário religioso.


A foto de Dom Távora nos inspira. Lembro do professor João de Deus, que ensinava Sociologia Geral no Seminário. Ele nos dizia: Dom Távora era um jovem Bispo acolhedor e humano, chegava no Povoado Zanguê em Itabaiana e após a visita pastoral deitava na rede com sua batina cheia de afeto e proximidade. Ele veio do Rio de Janeiro lançar redes de Esperança no período sombrio da Ditadura, foi perseguido e morreu jovem, ainda sonhando com o Concílio, ele que participou de dentro das Aulas Conciliares. 


Segue o texto do velho professor: Pe. José Soares. Pensamos em propor vias de diálogos nesses tempos de monólogos violentos. Vamos a raiz da História. Boa leitura! Pe. Anderson Gomes 


"Logo após o Vaticano II pensávamos que a Igreja seria pacificadora e samaritana. A estratégia de Roncalli e Montini foi espetacular mas ela encontrou muitos obstáculos fora e dentro da própria Igreja. 


Algumas questões merecem ser pontuadas: 


a) Igreja que dialoga e não impõe. O tempo da cristandade havia passado e os reclames da sociedade pedia uma igreja que ouvisse, escutasse e perdoasse.


A revolução cubana de 1959, reacendeu a lâmpada da disputa capaz de levar à terceira guerra mundial. A ilha do Caribe passou a ser vista como a sede do comunismo nestas terras indígenas e era insuportável tal ideia para os americanos. 


Roncalli não condenou ninguém e preferiu dialogar a ponto de receber a filha de Kruschev numa audiência - espetacular.

Para que condenar? As nuvens do amor não foram associadas ao Concílio? Para que tanta rigidez? Porque tanto medo se Jesus pregou tanto a esperança? (Romanos 5,5). Nossa Igreja esqueceu o Concílio e parece que muitos e muitas gostam mesmo é do poder e do autoritarismo. Por isso, melhor é sepultar o Vaticano II. 


b) Igreja que serve. O tamanho do serviço está de acordo com a largueza de cada comunidade ECLESIAL. Ora, Paulo afirma que "um só é o Espírito" (Efésios 4,4). Ele anima a todos e todas e cada comunidade deve buscar o seu caminho no serviço desinteressado. Ir ao encontro dos pobres e sofredores sem restrição e colaborar na construção da justiça e da paz. Deve buscar: como assim? Se não facilitar aos leigos/leigas o protagonismo, a Igreja ficará sempre nas mãos do clero e a missão não deslanchará. 


Acostumado a receber o povo nas igrejas e celebrar - o clero precisa atualizar sua missão com urgência - muitos sentem dificuldade no pontificado de Francisco e ainda não entenderam a proposta do Papa. Foi ele que alinhavou o documento da Conferência de Aparecida em 2007 e o caminho é sair, colocar-se como Igreja servidora e não servida e mergulhada em aliança com os poderosos desse mundo.


Muitos tentaram dizer que a evasão dos fiéis foi culpa da TdL e que a Igreja no Brasil estava muito ligada a política. Qual partido? Como assim? Bom ler a GAUDIUM et SPES n.1 e 6. Na missão de cuidar das dores dos homens/mulheres de hoje a Igreja deve ter uma palavra profética e que possa politicamente influenciar o tecido social sem ufanismo e sem arrogância.


PARTE II - Igreja do martírio. Este traço que acompanhou a vida de tantos homens e mulheres durante a história, continua forte e sem trégua. O sangue de Jesus Cristo continua rolando pelas ruas, pelos muros e praças de nossa civilização fragilizada e secularizada. Os modos de matar são diferentes e diversos e seguem caminhos bem mascarados na atualidade. O Papa tem falado sobre "a terceira guerra mundial por pedaços": isto não é martírio? Crianças assassinadas, mulheres violentadas, religiosos e religiosas sendo exterminados em vários lugares não é martírio? A fome que dizima a população de rua não é sinal de martírio? Os pedaços da violência formam o xadrez da indiferença e de uma doença nazi-fascista que se alegra com a dor e a morte dos pobres e sofredores de toda espécie. Urge um grito de basta nessa barbárie.


A igreja tem o que a dizer? Ela pode sinalizar alguma coisa para os crentes e não crentes? O caminho está no evangelho e no pontificado de Francisco. Quando mostrou-se continuador do Vaticano II, ele mesmo tornou-se mártir de sua escolha. Quando canonizou Dom Oscar Romero  - um grande bispo, místico, pastor e guia do povo de El Salvador, assassinado em 24/3/1980 - no dia 14 de outubro de 2018, Francisco sinalizou que fora da Europa existem santos e santas e que o mundo precisa olhar com mais acuidade para América Latina, Central e Caribe, com os olhos do respeito e não da exploração. 


A Igreja tem muito a comunicar e quando une o traço samaritano ao traço da santidade, ela consegue expressar a sua infinita vocação de ser sacramento e seguidora de Jesus de Nazaré, o Deus que amou e cuidou dos últimos e por isso, foi executado na cruz. Cuidemos de uma Igreja mais solidária e menos triunfalista."


Pe. José Soares de Jesus

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