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A fé e a vida na Trindade



“A fé de todos os cristãos fundamenta-se na Trindade”. Com esta afirmação de São Cesário de Arles (in: Expositio vel traditio Symboli; sermo 9), sabemos que, professando a verdadeira fé, em toda a vida da Igreja, "reconhecemos a glória da Trindade e adoramos a Unidade onipotente" (Oração de Coleta da Solenidade da Santíssima Trindade).


O Catecismo da Igreja Católica, tecendo acerca do mistério trinitário, chamá-lo-á central à fé e à vida cristã, porque é “fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na hierarquia das verdades de fé” (n. 234), já que tudo o que faz a Igreja, operando a sua missão salvadora recebida do Seu Esposo e Fundador, é realizada “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, engrandecendo a Trindade eterna, “imensa e una” (Liturgia das Horas, Hino das I e II Vésperas da Solenidade da Santíssima Trindade).


Refletir sobre a Comunidade trinitária, é enlevar – ainda mais – este mistério de amor de Unidade divina e de Trindade em Suas Pessoas. O Concílio Vaticano I, dogmaticamente, afirma algo que nunca a Igreja perdeu de vista, já que este mistério pertence aos “mistérios escondidos em Deus que não podem ser conhecidos se não forem revelados do alto” (Dei Filius, cân. 4). Inacessível à razão pura, somente se torna aberto e compreensível ao homem pela revelação amorosa de Deus na pedagógica História da Salvação, o que em Teologia chamamos “oikonomia” de cada uma das Pessoas divinas.


Santo Atanásio, na sua primeira Epístola a Serapião, vigorosamente, afirma sobre esta fé trinitária: “[...] cremos na Trindade santa e perfeita, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo; nela não há mistura alguma de elemento estranho; não se compõe de Criador e criatura; mas toda ela é potência e força operativa; uma só é a sua natureza, uma só é a sua eficiência e ação. O Pai cria todas as coisas por meio do Verbo, no Espírito Santo; e deste modo, se afirma a unidade da Santíssima Trindade. [...] Com efeito, toda a graça que nos é dada em nome da Santíssima Trindade, vem do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. Assim como toda a graça nos vem do Pai por meio do Filho, assim também não podemos receber nenhuma graça senão no Espírito Santo” (nn. 28.30). Logo, não entrevemos hierarquia na Trindade, tampouco competição, de maneira que, diante da eterna e inquebrantável comunhão de Suas Pessoas, chamamo-la ‘perfeita Comunidade’.


São Paulo, na Carta aos Romanos, bem afirma que “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (5,5). Disso também extraímos o fato de contemplando a Trindade, a Igreja contempla o único Deus. Entretanto, com a afirmativa de São Paulo, pontuemos o acesso que nós – “batizados ‘em nome’ do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e não ‘nos nomes’ destes três, pois só existe um Deus” (Catecismo da Igreja Católica, 233) – temos ao interior da Trindade, não completando-a, mas por admissão, porque, como ainda esclarece Santo Atanásio: “Realmente, participantes do Espírito Santo, possuímos o amor do Pai, a graça do Filho e a comunhão do mesmo Espírito” (Op. Cit.). Já associados à esta Comunidade de Amor, seremos, plena e felizmente, correinando com Ela, na vida eterna.


Enquanto tal bem-aventurança não nos chega, nunca a nossa vida se aliene, pelo pecado, da vida divina com a qual já fomos presenteados desde o Batismo que recebemos; antes, pelo contrário, seja a nossa existência - já aqui e agora - um canto contínuo de louvor e “glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém”.


Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).

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