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A libertação que vem



Eis o Advento: tempo da esperança. Misticamente, pela vivência da Sagrada Liturgia, vemos que Deus cumpre as Suas promessas, feitas desde a queda da humanidade quando do pecado original (cf. Gn 3,15), porque os sinais já nos falam de libertação, de salvação. Com Maria, a Senhora da Espera, contemplamos esta chegada. E ela, a “Profetiza da Alegria”, cantará, tal como escutaremos no seu Magnificat, que o Senhor, enviando-nos o Seu Cristo, o Libertador, faz cumprir a Sua justiça, “conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre” (Lc 1,55). E esta justiça consiste na Sua presença divina e misericordiosa entre nós, porque, “O Senhor é a nossa justiça” (Jr 33,14-16).


Ainda de Jeremias, temos a explicitação, por parte do próprio Deus, acerca desta promessa de bens futuros aos quais esperamos: “Naqueles dias, naquele tempo, farei brotar de Davi a semente da justiça, que fará valer a lei e a justiça na terra” (Jr 33,15). Este “broto de Davi”, na continuidade da promessa do Messias, tem a sua origem quando o rei, profeta e pastor, querendo dar ao Senhor uma casa, um templo, obtém como resposta divina: “Não és tu quem me edificará uma casa para eu habitar. […] Quando chegar o fim de teus dias e repousares com os teus pais, então suscitarei depois de ti a tua posteridade, aquele que sairá de tuas entranhas, e firmarei o seu reino. Ele me construirá um templo, e firmarei para sempre o seu trono real. Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho” (2Sm 7,5.12-14a). O “rebento de Davi” é aquele a quem Zacarias, pai de João Batista, vai reconhecer como “Poderoso”, suscitado na casa de Davi, servo divino, como objeto de anúncio profético desde os primeiros tempos, para livrar-nos dos nossos inimigos e daqueles que nos odeiam – ou seja, do autor do pecado –, fazendo Deus assim cumprir a Sua misericórdia (cf. Lc 1,69-72), porque este é um dado da Sua justiça.


Ao anúncio do dia da libertação, da nossa salvação, há o incremento da nossa fé, principalmente quando ela é provada por tantas situações de desesperança, tal como sempre o mundo nos interpela forte e adversamente. É isto que deve produzir em nós a vivência do advento do Senhor: o incremento da fé. São Tiago, por sua vez, para isto nos exorta: “Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma” (Tg 1,2-4). Assim, na experiência do Advento, o cristão, mesmo enfrentando todas as ondas que embatem contrárias à sua fé, deverá se esmerar por viver a santidade, levantando-se e erguendo a cabeça, sabendo que a libertação se aproxima (cf. Lc 21,28). Às dificuldades sofridas pelo ódio deste mundo e das suas conjecturas maléficas, temos, ao nosso favor, a confirmação, nos nossos corações, por parte de Deus, que nos concede a sua força para sermos firmes no bem diante de tudo e pacientes, em vista do retorno do Filho do Homem, nosso libertador, pelo mistério de Sua vinda a este mundo e da Sua Páscoa redentora.


Sigamos o conselho emanado dos lábios do Senhor e perpetuado pela Igreja: “Tomai cuidado para que os vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida” (Lc 21,34). De uma exortativa, sigamos os conselhos do Apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito” (Rm 12,2). Desta maneira, preparar-nos-emos para o dia do Senhor, dia da nossa libertação, dia grande e terrível (cf. Jl 2,11; Ml 3,23), no coroamento da missão de Cristo (cf. Is 61,2), na plenitude do Seu Reino eterno e universal.


Copiemos, pois, as atitudes da Virgem da Expectação na espera dos bens a nós prometidos pelo Seu Filho e nosso Deus.


Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).

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