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A pura vivência dos mandamentos



Indubitavelmente, seguir os mandamentos da Lei de Deus é caminho de salvação, porque é resposta ao Senhor e ao Seu plano intenso de amor. Quem segue os mandamentos, prima em ser agradável a Deus, e, portanto, evita todo e qualquer pecado. Para alcançarmos a perfeição querida por Deus pela vivência dos mandamentos, perpassamos pela atitude diante da Palavra de Deus, exortada pelo Apóstolo São Tiago: “Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar vossas almas. Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (1,21b-22).


Nesta exortação de São Tiago, temos a primeira das motivações interiores necessárias para o verdadeiro cumprimento dos mandamentos: a humildade. Cultivá-la desmonta as falsas e ilusórias estruturas que criamos ou são criadas em nós. Limpando o nosso coração das nefastas preocupações, temos maior liberdade para a construção querida por Deus: a do homem novo, criado e redimido à imagem de Cristo, o perfeitíssimo. Acolhendo com humildade a Palavra, não desgastamos as nossas energias em banalidades que nos afastam do Senhor.


Recordemo-nos da censura de Jesus aos fariseus e aos mestres da Lei com os seus artifícios hipócritas de prática dos mandamentos. Por isso, o Senhor, Palavra encarnada de Deus, admoesta-lhes: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. – E sentencia: - Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens” (Mc 7,6-8). Então, percebemos que a hipocrisia faz frente a humildade, porque enquanto esta é um esvaziar-se para, transparentemente, acolher a Palavra de Deus e desejar seguir a Sua divina vontade, aquela [a hipocrisia] superlota o coração humano de vaidades, obstaculizando a ação transformadora dos preceitos do Senhor na vida de quem, aparentemente, O busca. Era isto que acontecia com aqueles homens que chegaram e criticaram os discípulos de Jesus em Sua divina presença, acusando-os de não seguirem as tradições herdadas dos homens, seus antepassados (cf. Mc 7,1-8.14-15.21-23).


O termo grego “hipócrita”, na cultura teatral, era um recurso dos atores que, em suas peças, retratavam os mais diversos personagens, utilizando, para isso, máscaras que escondiam as suas reais identidades. Hipocrisia, no comportamento moral, é viver de aparência, na falsidade de ações. No caso da hipocrisia na prática dos mandamentos é uma adulteração da vontade de Deus, fugindo daquilo que o Deuteronômio já preceituava: “Nada acrescenteis, nada tireis, à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo” (Dt 4,2). Conservar a Lei integralmente no coração é, assim, tida como sabedoria, inteligência e grandeza.


“Com efeito, a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai, é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,27): eis o que São Tiago ainda nos diz, apontando que o cerne da verdadeira religião – e, portanto, da Igreja Católica – e da salutar prática dos mandamentos divinos é a caridade, o amor que destinamos a Deus sobre todas as coisas, reconhecendo-O também nos irmãos. Não nos esqueçamos de que, indagado por um mestre da Lei, o Senhor Jesus Cristo sintetizou todos os divinos preceitos na sentença: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt 6,5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas”. (Mt 22,36-40).

A Igreja é a grande catequista do Povo de Deus. Nos seus ensinamentos, prezando pelos mandamentos seguidos na pureza e na verdade, aponta a todos o caminho do Céu, da redenção. Ouvindo-a a ensinar-nos os caminhos da Divina Lei, seremos ajudados principalmente nas dificuldades do tempo presente, quando a mensagem do Evangelho é escanteada pelos contravalores do mundo.


Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru)

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