AJUCAT emite carta aberta contra ofensas ao Papa Francisco

A Associação de Juristas Católicos da Arquidiocese de Aracaju/SE, (AJUCAT), Deputado Estadual Carlão Pignatari, Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, manifestando a indignação dos católicos referente as ofensas proferidas ao Papa Francisco e ao bispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes. Confira na íntegra:
A Associação de Juristas Católicos da Arquidiocese de Aracaju, apresenta à sociedade brasileira e sergipana, de forma circunstanciada e fundamentada, sua contundente e indignada manifestação acerca do pronunciamento do Deputado Estadual Frederico D’Ávila, feito no dia 14/10/2021, da tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
Antes, contudo, é necessário reafirmar o nosso compromisso com o perdão ilimitado (Mt 18,22) e com a justiça (Dt 16,20), em igual medida, sem qualquer dificuldade em conciliar essas duas potências de nossa fé cristã, que orienta nossa atuação do mundo.
No que toca ao perdão, o que Jesus nos propõe não representa mera superação de uma tradição da época que era no sentido de perdoar no máximo três ou quatro vezes, mas também uma contraposição radical ao ódio e ao desejo ilimitado de vingança presente nas palavras de Lamec (Gn 4, 23-24).
Portanto, a única forma de conciliarmos essa ordem de ideias com a justiça, é comprometendo-a com a limitação do ódio, sem que a reação firme e capaz de superar tradições represente vingança, mas oferta de vida em outras condições (Gn 4, 14-16).
Essas considerações foram necessárias porque em cinco minutos (pequeno expediente) o parlamentar foi capaz de cometer uma lista extensa de ilícitos que vão desde o incentivo a uma reação armada e violenta contra movimentos sociais, estimulando a descrença nas formas constitucionais de solução dos conflitos (Estado Democrático de Direito), até o desrespeito a direitos humanos, passado por um discurso de ódio, que terminou por ofender não apenas a coletividade de católicos, mas igualmente os interesses difusos dos brasileiros, detentores de direito a uma sociedade plural, pacífica, solidária, livre e democrática.
Ao tempo em que nos solidarizamos com o Santo Padre o Papa Francisco, com o Excelentíssimo Reverendíssimo Senhor Arcebispo de Aparecida Dom Orlando Brandes, a CNBB, todo o clero e leigos católicos do Brasil, registramos que o entendimento da associação signatária é no sentido de que o indigitado Deputado quebrou decoro parlamentar, cometeu crime de responsabilidade, sem embargo de nos filiarmos à tese de que o discurso de ódio não está albergado pela imunidade parlamentar, no que merece o devido processamento judicial nas searas cível e criminal.
Aliás, o discurso de ódio não é uma ameaça apenas aos católicos, ora vítimas, mas à própria democracia.
Portanto, não interessa reprimi-lo na defesa singular do catolicismo, mas na defesa prioritária dos menos favorecidos, dos pretos, dos índios, dos evangélicos, dos pobres, das religiões de matriz africana, dos oprimidos e das minorias de uma forma geral, pois o discurso de ódio, quando tolerado, tende a se proliferar, atingindo e calando os mais fracos.
Forte nessas considerações, requeremos as providências políticas e jurídicas de competência da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa de São Paulo, sua comissão de ética ou instância equivalente, para que nossa pátria continue amando igualmente seus filhos, que a querem sempre amada.
Aracaju, Cúria Metropolitana, 18 de outubro de 2021. Na memória litúrgica do Evangelista São Lucas.