Amizade e Ressurreição

A quaresma revela um aspecto do amor de Jesus, que a boa filosofia chama de philia, que significa amizade. Os antigos analisaram tal sentimento para enaltecê-lo, a ponto de vê-lo como uma realidade que caracteriza o ethos da humanidade, ou seja, das relações instauradas no dia-a-dia, que definem a coloração, o perfume, a intensidade e a direção da vida. A amizade é tão valiosa para o cristianismo, que a Escritura afirma: “Amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontra, encontra um tesouro. Amigo fiel não tem preço, não há medida para indicar o seu valor. Amigo fiel é remédio para a vida, e os que temem ao Senhor o encontrarão” (Eclesiástico 6,14-16).
Um dos aspectos determinantes da amizade reside no fato da identificação. O processo de identificação que caracteriza a amizade implica comunhão de sonhos, perspectivas, valores e projetos de vida. Os estudiosos do fenômeno da amizade afirmam que a identificação entre os amigos é tamanha, que o amigo deve ser visto como um alter ego, isto é, um outro eu, capaz de dividir os mesmos sentimentos e ações, as mesmas orações, renúncias e esperanças.
O que havia entre Jesus e Lázaro era certamente um sentimento de amizade genuína. O Evangelho de João explana a beleza desta relação, quando diz: “E Jesus chorou”. Tal afirmação não pode passar despercebida, pois revela a ternura da amizade de Jesus. Sob a ação do Espírito Santo, é possível ouvir as belas partilhas entre Lázaro, Marta e Maria, as conversas sobre a missão com os discípulos, as dificuldades, milagres e prodígios. A casa de Lázaro era um dos abrigos preferidos de Jesus, pois a identidade de sonhos faz com que os amigos se abriguem um no coração do outro (João 11, 35.25.43).
O choro de Jesus se torna oração, louvor e súplica ao Pai em defesa da vida, para resgatá-la e revelar sua verdadeira identidade: a vida jamais acaba. No Evangelho de João, Jesus afirma: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”. Lázaro permaneceu vivo no coração de Jesus, como Jesus continuou vivo no coração de Lázaro. E Jesus exclamou: “Lázaro, vem para fora!”, mostrando que seus amigos não morrem, apenas entram na Vida, pois compartilham os sonhos, planos e valores sagrados.
A Santa Missa é o momento favorável para abandonar os sonhos contrários a vontade de Deus, como José, pai e carpinteiro, Saulo, o perseguidor, e outros. Com Santa Teresinha, abracemos os sonhos de Jesus. Supliquemos a graça. Ele que nunca abandona, nos ajudará a concretizá-los. Na Eucaristia, Jesus quer que o abriguemos no aconchego do coração, do mesmo modo que encontramos abrigo em seu coração bondoso. Santa Teresinha reza por nós. Os seus devotos e devotas, devem sempre intensificar a amizade com Jesus. Com Santa Teresinha, que abraçou a via do Evangelho, rezemos: Ser amigo de Jesus, para o que der e vier. Pe. João Claudio é pároco da paróquia Santa Teresinha (Robalo).