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Calor, sabor e brilho



"Vós sois o sal da terra. [...] Vós sois a luz do mundo. Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens" (Mt 5,13.14.16).


Imediatamente após o trecho em que São Mateus abre o belo Sermão da Montanha, onde o Senhor dirá as bem-aventuranças, temos a continuidade dos ensinamentos de Jesus, destrinchando tão profundas palavras que conduzem o coração humano à felicidade eterna no Reino do Céu.


Agora, o Cristo chamar-nos-á 'sal' e 'luz'. Aparentemente, tais elementos não têm relação alguma entre si. Mas, ainda que não tenham vínculo algum de existência (porque o sal dá sabor, ao que a luz ilumina), na cultura da Palestina da época de Jesus, sal e luz possuem afinidade. Naquela época, os camponeses e nômades usavam o sal também para o aquecimento em adição ao betume. E, assim como a luz e o sal esquentam, Jesus convida os cristãos a serem fonte de calor num mundo gélido e indiferente, a serem luz surgente em meio às trevas espessas.


Porém, no nosso imaginário cultural, o sal, naturalmente, salga. E isto igualmente Jesus nos indica: "Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens" (Mt 5,13). Ser sal para aquecer e dar sabor é o que observa o grande escritor francês Georges Bernanos, que nos afirma que Jesus não nos invitou para sermos doces, macios e oleosos como o mel, mas vigorosos, rigorosos e decididos como o sabor do sal.


A luz, se escondida, é inútil. E para isso o Senhor adverte-nos: "Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim, num candeeiro, onde brilha para todos, que estão na casa" (Mt 5,15). Sendo luzes, na única Luz-Cristo, devemos ser referenciais na obscuridade do mundo.


E, por fim, a ordem do Senhor: "Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,16). No dia do nosso Batismo, a Igreja, com a sua autoridade de Mãe e Mestra, ao entregar-nos a chama do Círio Pascal, ordenou-nos que, iluminados por Cristo para sermos luz do mundo, caminhemos como filhos da luz. O Profeta Isaías também nos diz como brilharemos: "Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. [...] Se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia" (Is 58,7.9-10).


A caridade, nas suas diversas formas e atividades, é o produto do sermos sal e luz em Cristo para o mundo. Sim, o amor inserido em nossas ações segundo a vontade de Deus é o nosso importante e insubstituível testemunho cristão. Então, aqueçamos, salguemos e brilhemos neste mundo e nos ambientes onde estamos! Eis a nossa missão, que deverá ser irrecusável: aquecer, salgar e brilhar no amor.


Padre Everson Fontes Fonseca, Presbítero da Arquidiocese de Aracaju

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