Carreguemos Cristo nos outros

Carregar fardos, pesos, grilhões... parece que todos, de alguma forma, neste mundo onde estamos, os levamos, pesadamente: doenças, contrariedades, preocupações de diversas ordens... problemas, pequenos ou grandes, todos os temos. Entretanto, o Senhor apresenta-Se como nosso auxílio, como o nosso “cirineu”, que, conosco, carrega a nossa pesada cruz.
“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). Mesmo com este irrecusável convite à nossa fraqueza tão cansada, o Senhor não nos priva do peso, não nos deixa na ociosidade; porque, ao lado do “Vinde a mim os cansados”, Ele dá uma segunda ordem: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29). Sim, o Senhor não nos exime da Cruz, mas nos incita a que a carreguemos como obra mesma de Deus, ainda que nem sempre venha necessariamente Dele, mas Ele a consinta.
Porém, o que significa levar o peso de Cristo, adjetivado como suave, leve - e digo mais: doce? Pelo exercício da caridade para com Deus e com os irmãos, somos chamados a, num espírito de sacrifício, imitar o Senhor, ajudando-O, inclusive, a aliviar os fardos imensos das pessoas, impostos por tantas situações que as oprimem e lhes roubam a dignidade. Tal como o Senhor carregou as nossas misérias na Sua Cruz redentora, o mesmo deveremos fazer, por amor e em nome Dele, em benefício dos irmãos.
Esta atividade de sacrifício é sempre pertinente, também nestes dias tão difíceis que a humanidade estar a enfrentar pela presente pandemia. Nunca nos deverá parecer excessiva qualquer renúncia que, por Cristo, fazemos pelo bem outros. Aliada ao sacrifício está a caridade que deve impulsionar-nos, “estimular-nos a mostrar-lhes o nosso apreço com atos muito concretos, procurando ocasiões de ser úteis, de aliviar os outros de algum peso, de proporcionar alegria a tantas pessoas que podem receber a nossa colaboração, sabendo que se trata de uma matéria em que nunca nos excederemos suficientemente” (Monsenhor Francisco Carvajal. Falar com Deus. Vol. 4, pág. 53). Assim como São Paulo, elogiando a caridade, disse que tal virtude nunca acabará (cf. 1Cor 13,8), ouso afirmar que ninguém nunca se excederá no amor.
Do Profeta Zacarias, impressiona-nos a imagem da cavalgadura do rei prometido, do próprio Senhor Jesus Cristo: “[...] é humilde e vem montado num jumento, um potro, cria de jumenta” (Zc 9,9). O que isto representa? O jumento é hábil para levar cargas em suas cangalhas. Se quisermos carregar o suave, leve e doce fardo de Cristo, como um jumento, carreguemo-Lo às costas, carregando tantas tralhas que sufocam os irmãos, na perspectiva de aliviá-los. Às vezes, o jumento apanha para cumprir a sua atividade. Entretanto, ele sempre a cumpre, ainda que se canse, que amue ou coisas do tipo. Cumpramos os atos de caridade em nome e nas vezes do próprio Senhor, ainda que não sejamos reconhecidos (porque basta que O reconheçam)! Se estamos dispostos a tal atitude que também comporta a humildade, saibamos que “ao lado de Cristo, as fadigas se tornam amáveis, tudo o que poderia ser mais custoso no cumprimento à vontade de Deus se suaviza” (Monsenhor Francisco Carvajal. Falar com Deus. Vol. 4, pág. 52).
O próprio Deus, fonte do amor, far-nos-á descobrir nos outros a Sua imagem divina, conscientes de que tudo o que fazemos ao próximo, fazemos, primeiramente, a Ele. Assim, tenhamos em nosso coração os mesmos sentimentos de compaixão do Senhor Jesus Cristo.
Padre Everson Fontes Fonseca, vigário paroquial da Paróquia São João Batista (Conj. João Alves).