Cristo liberta de todas as prisões

A Palavra de Deus não aliena, ou seja, não distancia da realidade, mas, pelo contrário, transforma a realidade na qual estamos inseridos, tornando-a mais humana e fraterna. É o que estamos vendo na Sagrada Escritura, sobretudo na relação instaurada entre Paulo e Onésimo. Ambos estão na prisão e Paulo anuncia a Palavra de Deus justamente nesta situação difícil na qual estão e não espera que as coisas melhorem, que os ventos sejam mais favoráveis. A Palavra de Deus não pode esperar e, por isso, mesmo em meio aos grilhões da prisão, Paulo encontra forças para anunciar a Palavra que liberta de todas as prisões sejam estas físicas, psicológicas e espirituais (Filêmon 7-20).
Até aquele instante Onésimo se enxergava apenas como um escravo, como alguém que deveria forçosamente servir aos senhores que o maltratavam, que o trocavam ou vendiam de acordo com as conveniências e comodidades, mas a partir da pregação de Paulo, Onésimo tem um encontro pessoal com Jesus, compreende que é amado por Deus e que o sacrifício de Jesus na cruz o liberta de todas as correntes, inclusive das correntes do pecado que fazem enxergar as pessoas como meros objetos, como mercadorias que estão sob o nosso comando. Onésimo compreende a essência da liberdade, compreende que está livre para seguir os passos de Jesus, para ajudá-Lo na construção do Reino por Ele anunciado, que é o Reino da Paz, da Justiça e Fraternidade. Jesus não quer que vivamos acorrentados e muito menos que acorrentemos as pessoas. Jesus nos liberta e nos envia para libertar através da sua Palavra.
Dentre os primeiros milagres ocorridos logo após a aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida nas águas do rio Paraíba, há o registro do escravo que estava sendo arrastado pelas correntes que o mantinham preso. Ao ver a imagem da Santa Mãe Aparecida, este escravo grita por clemência de tal modo que as grossas correntes foram quebradas. Coloquemos nas mãos da Santa Mãe Aparecida, as pessoas mantidas em cativeiros, que estão em situações análogas à escravidão para que sejam libertadas por meio das parcerias entre os órgãos públicos e dos missionários e missionárias que colaboram com o resgate da dignidade de tantas pessoas através do anúncio da Palavra de Jesus.
Além destas prisões, rezemos pelas mulheres que ainda vivem situações de violências e subserviências, presas em suas casas, que deixam de ser o lar doce lar e se transformam em palcos da morte. Não podemos seguir os passos de Jesus e fechar os olhos para estas realidades. Peçamos a Jesus a graça de uma fé encarnada e comprometida com as pessoas vulneráveis e fragilizadas, e O ouviremos dizendo: “estive preso e você me libertou” (Mt 25,36) Sob a intercessão da Santa Mãe Aparecida peçamos a libertação das correntes que nos aprisionam, sejam as correntes do egoísmo, da discórdia, das intrigas. Com o coração livre destas correntes compreenderemos que a Palavra nos une e nos torna mais fraternos. Com Nossa Senhora Aparecida rezemos: “Cristo liberta de todas as prisões” (Gálatas 5,1).
Pe. João Claudio é pároco da paróquia Nossa Senhora Aparecida (Farolândia, Aracaju)