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Dominus flevit



“Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,7).


Com esta informação, muito se quer dizer acerca Daquele que, hoje, nasceu para nós como Salvador. Ineditamente, Deus apresenta-Se como pequenino, como frágil. E, a partir de então até a glória da Sua ressurreição, o Redentor fragilmente Se apresentará.


O Menino enfaixado na manjedoura: esta imagem foi bastante inculcada por muitos santos místicos da Igreja, não sendo, na visão deles, por acaso que Lucas tenha fornecido, teologicamente, tal descrição. Não imaginemos aqui que o Menino recebeu as faixas simplesmente pela pobreza em que nasceu e que a manjedoura foi-Lhe dada aleatoriamente. O luminoso Bento XVI na associação feita pelo Evangelista sobre as faixas e a manjedoura, ajuda-nos a refletir: “Podemos imaginar, sem sentimentalismo algum, com quanto carinho esperava Maria sua hora e preparava o nascimento de seu filho. […] O menino, envolto e bem apertado em faixas, mostra-se como uma referência antecipada à hora de sua morte: é, desde o princípio, o Imolado. […] Por isso, a manjedoura representava uma espécie de altar” (Jesus de Nazaré: contribuições para a Cristologia, Tomo I, p. 83). Logo, pelo pensamento do Papa, sabemos que o Menino que nos nasceu está marcado para morrer, e prova-nos isto as faixas (na representação de uma veste mortuária, como se tinha o costume de envolver os defuntos em panos) e a manjedoura. Na Criança que está em nosso meio, sabemos que Deus “se entregou por nós para nos resgatar de toda a maldade e purificar para si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem” (Tt 2,14).


De Lucas ainda, vemos que os pastores, tão logo souberam, pelos anjos, do nascimento do Salvador, “que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11), receberam a dica de como o distinguiriam: Disse-lhes o anjo: “Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). O Infante que encontraram na manjedoura não era um simples bebê, e sim o Criador do Céu e da Terra e de toda a humanidade. Que passo de fé deram aqueles humildes homens pastoris! Pois, buscavam conhecer a Deus face-a-face, e se depararam com um Menino, reconhecendo-O Senhor! Uma criança que, como todas as outras, sentia frio, fome e, inclusive, chorava.


Ai, Deus chorou…! O choro é reflexo de fraqueza e de vulnerabilidade: e Deus chorou. Entretanto, o seu pranto era bem diferente das lágrimas das outras crianças. Estas choram de dor ou por algum incômodo fisiológico; Jesus, ao contrário, chorava de amor e compaixão por nós! Por amor aos homens, Deus chega a fazer-Se menino e a chorar!


Aquele choro de Jesus envolto em faixas e na manjedoura, embora não estampado em nuances por Lucas ou por Mateus, não é somente inerente à natureza humana por Ele abraçada juntamente com a divina em Sua única Pessoa; são lágrimas que vão além, chegando aos nossos conturbados tempos, onde Ele é esquecido, inclusive nas comemorações do Seu nascimento. Jesus chorou de dor, pois via que muitos homens e mulheres desprezariam as Suas lágrimas, Seus sofrimentos e Seu amor, ofendendo a Deus com o pecado, na insensibilidade de seus corações.


Almas devotas, para a sua felicidade, contemplai, naquela manjedoura, dentre as faixas que O envolvem, sobre aquela pobre palha, o tenro Menino que está a chorar! Vede como é formoso; deixai-vos cativar por Ele! As Suas lágrimas são por vós, pois chora pela natureza humana no lodo do pecado em que está. Ele Se irmana a vós, sobremaneiramente, no sofrimento para libertar-vos do mal que padeceis. Mirai a luz que irradia e o amor que respira! Esses olhos pequeninos atiram setas aos corações que O desejam. Esses vagidos, seus gemidos, são chamas abrasadoras para os que O amam. Com os Seus lamentos, tudo vos conclama e vos diz que ameis Aquele que vos ama, que ameis um Deus que é digno de amor infinito; que baixou do Céu, Se fez menino – e menino pobre – para manifestar o amor que vos tem e para conquistar, por Seus sofrimentos, o vosso amor. Olhai, cristãos, olhai o presépio e com ternuras de uma vida reta, consolai o Menino que vos nasceu, dando-Lhe por presente o vosso coração puro e a vossa alma límpida!


Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).

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