“E nós, que devemos fazer?”

Eis que já percebemos a chegada do Natal: as luzes, o som, o vermelho e verde das decorações… muitos, inclusive, já organizam as suas ceias para, em família ou com amigos, viverem as suas confraternizações. Infelizmente – e isto não é mais surpresa para ninguém –, a festa grandiosa para a qual nos preparamos perdeu o seu sentido original e mais alto: o nascimento de Jesus. Entretanto, para nós, que temos fé, a preparação interior deverá preceder a exterior, a das aparências, não nos apoiando nas alegrias fugazes, secundárias, e, quiçá, fantasiosas.
O convite à alegria feito pelo Apóstolo Paulo à comunidade de Filipos deve ressoar séculos afora: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens. O Senhor está próximo!” (Fl 4,4-5). Esta bondade, como fruto mesmo da alegria, deverá ser demonstrável por um intenso desejo de melhora da nossa parte, desenvolvendo-nos, com a ajuda da Graça divina, para chegarmos à altura de Cristo. E, para nos esmerarmos na virtude, caber-nos-á, sempre de bom alvitre, indagarmos a nossa consciência, continuamente iluminados pela Palavra: “E nós, que devemos fazer?” (Lc 3,14).
João Batista, ao ser perguntado pelos que desejavam acolher o Salvador pela conversão de suas vidas, respondia-lhes, levando-os à uma desenvoltura na caridade, na justiça e na paz. Na caridade: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” (Lc 3,11); na justiça: “Não cobreis mais do que foi estabelecido” (Lc 3,13); na paz: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!” (Lc 3,14). Estas três realidades – caridade, justiça e paz – às quais João nos convida para o acolhimento do Salvador com menor indignidade, constituem uma só e mesma realidade, portanto.
Se há este esforço preparatório de nossa parte (o que chamamos ascese), estamos fazendo em nós aquilo que será encargo Daquele a quem São João Batista chama de “mais forte”: estamos “facilitando” a limpeza da nossa eira, de nossas arestas, do nosso excesso que tange ao pecado. Porém, não o façamos no desafeto, de má vontade, pesarosos, desanimados. Não. Façamo-lo com alegria. E, assim, nada nos inquietará, porque Deus nos dará a Sua paz, que ultrapassa todo entendimento; Ele que guarda os nossos corações e pensamentos (cf. Fl 4,6-7).
A cada indagação pessoal, “E nós, que devemos fazer?”, tenhamos presente este desejo de, alegremente, superarmos dificuldades íntimas, espirituais, para esta tão necessária preparação, não apenas para o Natal do Senhor, mas, também, para o dia de Sua chegada gloriosa.