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Eis as mãos do Redentor



Nesta semana piedosa, tal como é a Semana Santa, desejo chamar a atenção dos meus leitores para que, juntos, contemplando o Salvador da humanidade, vislumbremos as Suas mãos.


No livro do Gênesis, a mão de Deus criou o céu, a terra, o dia, a noite, as plantas e os animais… o homem, enfim, tudo o que existe. A mão de Deus é criadora. Quando lemos o Êxodo, percebemos que a mão de Deus, ao libertar o povo hebreu da escravidão, é salvadora. No deserto, quando o impenitente povo cruzava o desconforto do ermo, sob calor, fome e sede, a mão de Deus se revela providente. E, quando este mesmo povo chegou à Terra Prometida, diante daqueles que já habitavam, a mão de Deus se despontou forte, potente. Porém, quando Israel, na falta de correspondência ao amor que Deus sempre lhe teve, pecou, a mão de Deus se mostrou mudada, e disso, indevidamente, o Salmista se ressente: “Será que Deus vai rejeitar-nos para sempre? E nunca mais nos há de dar o seu favor? Por acaso, seu amor foi esgotado? Sua promessa, afinal, terá falhado? Será que Deus se esqueceu de ter piedade? Será que a ira lhe fechou o coração? Eu confesso que esta é a minha dor: ‘A mão de Deus não é a mesma: está mudada!’” (Sl 77,8-11).


Criadora, salvadora, providente, forte e potente… quantos atributos mais poderemos render à mão do Senhor, que curou e chamou tantos à um novo sentido de vida? E, com relação à mudança da mão de Deus, mesmo diante de nossa inconstância em amá-Lo, ela mudou sim, mostrando-se mais misericordiosa, porque a contemplamos crucificada, ensanguentada… Mãos salvadoras que, na Cruz, envoltas num mistério, se mostram poderosas, gloriosas, como, antecipadamente, canta o Salmo 88: “Vosso braço glorioso se revela com poder! Poderosa é vossa mão, é sublime a vossa destra!”. E mais: na aparente fraqueza do Filho, se mostra a glória infinita da Santa Trindade e a Sua fidelidade de amor: “Estará sempre com ele [com o Cristo, com o Filho] minha mão onipotente, e meu braço poderoso há de ser a sua força. […] Eu farei que ele estenda sua mão por sobre os mares, e a sua mão direita estenderei por sobre os rios” (Sl 88,22.26). E o que significam este domínio sobre os mares e rios? Denotam que o poder de Deus está acima do mal (cuja representação é o mar), já subjugado pela Cruz do Salvador, promotora de vida plena, figurada pelas águas doces dos rios.


Os braços, as mãos estendidas do Senhor, contempladas hoje na Cruz, aparentemente inanimados, sem vida, são confirmação, são realização da fidelidade de Deus, que, pelo mesmo Salmo 88, nos garante, tendo em vista o mistério do Crucificado: “Se seus filhos, porventura, abandonarem minha lei e deixarem de andar pelos caminhos da Aliança; se, pecando, violarem minhas justas prescrições e se não obedecerem aos meus santos mandamentos: eu, então, castigarei os seus crimes com a vara, com açoites e flagelos punirei as suas culpas. Mas não hei de retirar-lhes minha graça e meu favor e nem hei de renegar o juramento que lhes fiz. Eu jamais violarei a Aliança que firmei, e jamais hei de mudar o que os meus lábios proferiram” (Sl 88,31-35).


As mãos de Jesus crucificado são comunicadoras da fidelidade e da misericórdia de Deus, da Sua Onipotência eterna, infindável. Abramos o nosso coração, e deixemos que a Sua mão divina penetre o nosso interior, toque o nosso peito e nos comprometa com o Seu Sangue, que Lhe banha as mãos por amor. E aquele pedido, feito de maneira insana pelo o povo que vociferava a Pilatos, se realize em nós na misericórdia divina: “Que o sangue dele caia sobre nós e nossos filhos!” (Mt 27,24).

Padre Everson Fontes Fonseca é pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Mosqueiro (Aracaju).

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