Jesus-profeta

Jesus traz à humanidade a Plenitude da Revelação. Ele não apenas traz a revelação, mas a é de fato, pois em Jesus “habita corporalmente toda a plenitude” (Cl 2,9) da graça e da verdade. Ele não fala da Palavra; é a Palavra, e esta encarnada. Não fala da parte de Deus, como se fosse um porta-voz divino; Ele é a divindade, Deus-Conosco que Se comunica, falando-nos.
Em sinais prefigurativos no Antigo Testamento, percebemos a promessa que Moisés faz ao povo da parte de Deus acerca do profetismo como instrução divina (cf. Dt 18,9-21). O povo, transeunte pelo deserto, rumo à Terra Prometida, ainda amedrontado pela teofania (manifestação de Deus) no Horeb, onde o próprio Senhor entregou a Moisés as Tábuas da Lei (cf. Ex 19,16-24), pede a este, que intermedeie junto ao Senhor (cf. Dt 18,16). Moisés transmite aos seus a seguinte mensagem: “O Senhor teu Deus fará surgir para ti, da tua nação e do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás escutar” (Dt 18,15). Por que Moisés afirma que o Profeta que Deus enviará será como ele mesmo? Será que não suspeitava que a mensagem do Profeta seria mais eloquente e sublime do que a sua profecia intermediária? Com certeza, Moisés sabia da magnitude da Profecia do “Esperado”, daquele que, com máxima dignidade, iria sucedê-lo na condução do povo de Deus, o próprio Messias.
Moisés também era cônscio da dureza de coração dos seus e das gerações futuras (cf. Ex 32,9; 33,3.5;34,9; Dt 9,6.13). Isto também é provado, agora no Novo Testamento, quando Jesus reprova os incrédulos: “Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito. Mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras? (Jo 5,46-47). Ainda que seja proveniente, pelo menos enquanto humanidade, do meio do povo de Israel, a profecia de Jesus completa integralmente a de Moisés, e culpado será quem não lhe der ouvidos: (cf. Dt 18,18-19). Assim, com a Palavra à nossa altura de compreensão, Jesus revela-nos os mais altos mistérios da divindade. O que antes era velado, por Ele torna-se obviamente claro à nossa humana condição. Neste processo de ‘abaixamento’ dos mistérios do Senhor, vindo na Palavra do Cristo, não temos mais o que temer.
“Mas o profeta que tiver a ousadia de dizer em meu nome alguma coisa que não lhe mandei ou se falar em nome de outros deuses, esse profeta deverá morrer” (Dt 18,20). Logicamente, este versículo não se refere mais a profecia de Jesus, mas a outros profetas. Quem são estes? Profetizam independentemente do Profeta Jesus? Estes somos nós. Lembremo-nos de que, no Batismo, fomos ungidos sacerdotes, reis e profetas. Não independentes do Cristo, mas, por Ele, participamos do Seu sacerdócio, da Sua realeza e da Sua profecia. Participamos pelo consentimento da vontade divina para levarmos adiante uma missão, tal como Jesus, porém em menor grau, já que Ele é Deus. Mas, quando é que falamos em nome de outros deuses, ou mesmo, quando é que adulteramos a Palavra de Deus? Em muitas ocasiões: seja quando adotamos o ter, o prazer e o poder como soberanos em nossa vida; seja quando anunciamos nossos caprichos e nos esquecemos de Deus; seja quando agimos fora da apostolicidade da única e verdadeira Igreja de Cristo, a “Senhora Católica” (no dizer de Santo Agostinho), pois aqueles que assim o fazem anunciam um deus ao seu modo, independendo-se da Tradição ensinada pelo Sagrado Magistério da Igreja. Quem profetiza dessa forma não o faz em nome de Deus, e recebe a condenação eterna. Lembremo-nos o que diz o Senhor Jesus: “Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores” (Mt 7,15).
Jesus, na sua dinâmica missionária, ensina, exercendo, o seu múnus profético, que ainda estava velado como tal. São Marcos precisa, comparativamente, a forma do ensino de Jesus: “ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei” (Mc 1,22). Cristo ensinava argumentando, não lisonjeando a Lei como os fariseus. Ensinava com poder, convertendo os homens ao bem e advertindo com penas os que não criam. O ensinamento de Jesus era tão potente que admirava os homens e aterrorizava os espíritos maus. Se, no Antigo Testamento, o povo reclama a Moisés para que Deus não lhes fale diretamente por medo de morte, o falar de Jesus são insuportáveis ao Demônio. Por isso, o Demônio, pela boca do homem possuído, por exemplo, diz: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus” (Mc 1,24). Ao que Jesus, com autoridade replica: “Cala-te e sai dele!” (Mc 1,25). O que significa esta repreensão de Jesus? É vontade de Deus estabelecer comunicação com os homens e nunca com o Diabo, porque este nunca poderá se converter, pois já fez a sua escolha imutável e a sua sentença é irrevogavelmente implacável.
Às doces e potentes palavras de Jesus, tudo Se lhe faz submisso. Retornando ainda ao trecho de São de Marcos que trouxemos à lume, Cristo, ao expulsar o demônio, libertando aquele homem, traduz para os Seus ouvintes que, assim como a Palavra de Deus cria tudo do nada, de igual forma tem a força de dissipar todo poderio mortal do mal. Logo, todas as vezes que resistimos ao que as Sagradas Escrituras nos ensinam, estamos sendo aliados do Demônio e adversários de Deus. Uma reflexão: se até mesmo o Diabo reconhece o poder do Filho de Deus, por que muitos não aceitam Jesus? Ironicamente, será que pretendem ser mais hostis ao Cristo do que Satanás?
Inseridos no múnus de Cristo-Profeta, testemunhemo-Lo com vigor. E, trilhando o caminho da santidade, possamos agradá-lo sempre e sempre mais.
Padre Everson Fontes Fonseca, vigário paroquial da paróquia São João Batista (Conj. João Alves).