Luz de Aparecida: o meu coração é terra de comunhão

O salmo 23,4 fala sobre o vale da sombra da morte. Trata-se de uma imagem que retrata a fragilidade humana visitada por esta certa incerteza chamada de morte. É certa, uma vez que toca toda a natureza humana, mas também é incerta, pois não se deixa calcular. A vida e a morte são sempre realidades únicas e intransferíveis.
Desde o início de 2020 a humanidade tem experimentado a fragilidade da vida de uma forma tão acelerada ao ponto de despertar os mais variados posicionamentos. De um lado há quem diga: É tudo normal! De outro há quem exclame: Cuidado! No Brasil não se tinha ainda feito as apreciações necessárias para enfrentar com seriedade a questão em toda amplitude humana, social, política e econômica.
É claro que os motivos são variados mas certamente ao menos um destes deriva da seguinte afirmação: Não é aqui no Brasil! É lá na China! Não pegou minha família. A questão adquire outras proporções quando no dia 25 de fevereiro há confirmação do primeiro caso no território brasileiro. Já se passaram bem mais de sessenta dias e agora a situação é bem diferente. O Brasil registra mais de onze mil mortes pelo Covid-19. E assim se enxerga o vale da sombra da morte apontado pelo salmo 23. Agora afirma-se: É aqui no Brasil! Chegou aqui em Aracaju! E até na Farolândia.
Cada pessoa humana está realizando esta travessia com as dificuldades próprias de cada história de vida. As dificuldades do desemprego, da fome, da falta de moradia, das condições precárias de saúde pública em todo território brasileiro que agoniza há décadas e resiste pela força do povo brasileiro e dos profissionais de saúde, dos médicos e enfermeiros dedicados e abnegados que trabalham em condições de precariedade. É a travessia ao longo do deserto criado por tantas ações e omissões. É o momento no qual cada pessoa redescobre onde colocou o seu próprio coração. É o momento no qual cada pessoa verifica onde estão depositadas as suas seguranças.
A realidade contraposta ao vale da sombra da morte é a terra prometida, é a terra da vida em abundância proclamada por Jesus no Evangelho de João (10,10). Cada coração colabora com Jesus na construção desta nova terra na qual reinarão gestos de amor, gestos de partilha, de comunhão e reconciliação que são expressões do cuidado de Deus com cada vida. Este é o tempo do kairos, da graça de Deus que caminha com a humanidade enfrentando este duro deserto das dificuldades, convertendo corações. Deus está repassando lições com a humanidade, ensinando a acreditar n’Ele. Deus está ensinando a ter fé na sua presença, a procurá-Lo, e a colocar n’Ele toda segurança pois Ele é a rocha firme e inabalável.
Este é o tempo favorável para redescobrir a presença de Deus, fonte inesgotável de salvação. O Filho Jesus Cristo, o Sumo e Eterno Bom Pastor ressuscitou e está vivo no meio de nós. Maria Santíssima, Mãe e Divina Pastora do povo brasileiro interceda para que não falte compaixão e solidariedade em cada cristão. O deserto será superado e virá a nova terra com a força da oração e da comunhão com Deus e com os irmãos.
A Nossa Mãe Aparecida, reza com e pelo povo brasileiro: o meu coração é terra de comunhão.
Pe. João Cláudio da Conceição é pároco da paróquia Nossa Senhora Aparecida (bairro Farolânda, Aracaju)