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Mãe de Deus, Estrela da Esperança



A Virgem Maria é ‘Mulher das virtudes’. Podemos refletir – e muito – acerca de como Deus cumulou a Virgem Imaculada com as Suas forças ao que ela viveu, dentre tantas outras, as virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade. Muito meditamos sobre a fé doada por Deus ao coração de Maria, e como ela a desenvolveu em todos os momentos de sua terrena existência. Neste momento, ponderemos a esperança nutrida pela Virgem Maria, a esperança pela qual Nossa Senhora tendia a possuir Deus que ela ainda não via. E, da esperança, contemplemos a sua caridade.


Indubitavelmente, Maria é a ‘Estrela da esperança’. Sobre esta imagem da estrela, associando-a à virtude teologal da esperança, podemos ouvir o que foi dito pelo Papa Bento XVI, na sua Encíclica Spe Salvi: “As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com retidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz dele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia. E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela da esperança? Ela que, pelo seu ‘sim’, abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo; ela que se tornou a Arca da Aliança viva, onde Deus se fez carne, tornou-se um de nós e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14)” (n. 49).


A esperança cristã não é uma espera de qualquer sorte; ela tem um rosto, possui um nome; é uma Pessoa, a de Cristo, Esperança que salva (cf. Rm 8,24). Tratar Maria como Estrela da Esperança é vê-la como um astro que não possui luz própria, mas o brilho que reluz, não advindo de si, é um reflexo. Maria distribui a luz de Cristo, a luz que é Cristo (cf. Jo 8,12), de maneira única e supereminente na Igreja. O seu testemunho virtuoso de uma vida totalmente entregue a Deus, aponta este mesmo Deus que, somente ela, trouxe em seu coração imaculado e materno, porque, a partir do seu interior e da confirmação divina que “olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48), permitiu que ela fosse a única a trazê-Lo no seu ventre virginal e nos seus braços delicados e, simultaneamente, fortes por mãos puríssimas, que, constantemente, estiveram erguidas em direção ao Céu e a serviço pressuroso aos irmãos ou postas no alimento da sua fé pela oração.


Como virtude recebida de Deus e posta em prática em seus dias terrenos, esta esperança perfeita, a Virgem a exerceu em vários momentos: quando, em sua juventude, teve o ardente desejo da vinda do Messias; quando O pedia para a salvação dos povos; em seguida, quando esperava que o segredo da concepção virginal do Salvador fosse manifestado a José, seu esposo; quando ela precisou fugir para o Egito; mais tarde, no Calvário, quando tudo parecia perdido, e ela esperava a completa e próxima vitória do Cristo sobre a morte, como Ele mesmo o havia anunciado. Sua confiança sustentava a dos Apóstolos no meio de suas lutas incessantes pela difusão do Evangelho e conversão do mundo pagão. A certeza da esperança era tanto maior em Maria, quanto era ela confirmada em graça e preservada de todo pecado. Entretanto, não ousemos em pensar que os momentos de esperança na vida da Virgem eram estanques e pontuais. Não. Antes, eram vívidos na constância da espera e da ânsia de receber o prêmio da eternidade prometido pelo Cristo, seu Filho e Deus; ela, a primeira dos redimidos, dos salvos.


A Virgem Maria, sempre transparente no coração a Deus, recebeu, como reconhecimento divino, o dom de gerá-Lo na carne e na natureza humanas. Mãe de Deus: eis o que a Igreja proclama como sendo o maior título daquela que é, na história deste mundo sempre marcado pelo desalento do pecado, o fanal de esperança. E, pelos méritos únicos de ser Mãe de Deus, é que, diante Dele, Maria pede por nós com a força da sua intercessão, e, diante de nós, resplandece como estrela.


Neste momento de ver a Senhora Imaculada como sinal inequívoco de esperança, faço-lhes recordar das palavras mui conhecidas de São Bernardo de Claraval: “Ó tu, quem quer que sejas, que te sentes longe da terra firme, arrastado pelas ondas deste mundo, no meio das borrascas e tempestades, se não queres soçobrar, não tires os olhos da luz desta estrela. Se o vento das tentações se levanta, se o escolho das tribulações se interpõe em teu caminho, olha a estrela, invoca Maria. Se és balouçado pelas vagas do orgulho, da ambição, da maledicência, da inveja, olha a estrela, invoca Maria! Se a cólera, a avareza, os desejos impuros sacodem a frágil embarcação de tua alma, levanta os olhos para Maria. Se, perturbado pela lembrança da enormidade de teus crimes, confuso à vista das torpezas de tua consciência, aterrorizado pelo medo do Juízo, começas a te deixar arrastar pelo turbilhão da tristeza, a despenhar no abismo do desespero, pensa em Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria! Que Seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dela, não negligencie os exemplos de sua vida. Seguindo-a, não te transviarás; rezando a ela, não desesperarás; pensando nela, evitarás todo erro. Se ela te sustenta, não cairás; se ela te protege, nada terás a temer; se ela te conduz, não te cansarás; se ela te é favorável, alcançarás o fim. E assim verificarás, por tua própria experiência, com quanta razão foi dito: ‘E o nome da Virgem era Maria” (Segunda homilia “Super Missus”, 17).


Que sejamos disponíveis para, vislumbrando admiravelmente as virtudes de Maria, possamos adentrar em sua ‘escola’. Que ela seja a nossa Mestra nas virtudes! Para que, também nós, sejamos recompensados com a feliz bem-aventurança.


Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru)

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