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O apóstolo Pedro e Santa Teresinha na Igreja de Jesus


Uma das reflexões presentes na teologia católica é chamada de eclesiologia. Considerando que o termo eklesia, significa Igreja, a eclesiologia aborda um conjunto de reflexões acerca da natureza, composição e finalidade da Igreja. Há um trecho dos Atos dos Apóstolos que expõe a natureza da Igreja de uma maneira bastante direta. Tal expressão encontra-se no capítulo 9, versículo 4, quando Jesus faz a seguinte pergunta: Saulo, Saulo, porque me persegues? Há uma identificação estreita entre Jesus e a sua Igreja. A pergunta dirigida a Saulo, demonstra que a Igreja não é uma realidade externa e separada de Jesus, mas ao contrário, a Igreja está inserida no mais íntimo de Jesus, no seu Coração Sagrado, do qual jorram sangue e água. O sangue de Jesus corre nas veias da Igreja e a água que brota do seu Coração, irriga o jardim que é a Igreja.


A Igreja possui natureza divina, pois é o próprio Jesus caminhando conosco. É como se víssemos um reflexo do mistério da Encarnação do Verbo refletido sobre a Igreja. Como Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a Igreja possui uma natureza divina e outra humana. Contudo, a origem da Igreja é essencialmente divina, uma vez que ressoa por todos os cantos da Terra, a voz de Jesus que diz no evangelho de Lucas: Eis que eu estou [aqui] no meio de vós, como aquele que serve (22, 27). No Filho Jesus, o Pai está servindo a todos os seus filhos, sem qualquer distinção. O serviço exercido por Jesus consiste em doar a própria vida. A Igreja é expressão palpável do pastoreio de Jesus que se doa para que n’Ele tenhamos a vida plena. No evangelho de João, Jesus diz: Eu sou o Bom pastor. O Bom pastor doa a sua vida pelas ovelhas (10, 11). Doar a vida é sempre a forma mais autêntica para seguirmos os passos de Jesus e para sermos a sua Igreja. 


Acerca da natureza da Igreja, há outro trecho do evangelho conhecido como primado de Pedro ou primado petrino. Trata-se do momento no qual o apóstolo Pedro é escolhido como um fundamento da Igreja de Jesus que o nomeia, dizendo: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não poderão vencê-la (Mt. 16,18). É clara a identificação entre Jesus e a sua Igreja, mas aqui encontramos o Filho de Deus colocando a bela obra-prima que é a Igreja sob os cuidados de Pedro. É possível afirmar que como a bela obra-prima da criação foi colocada sob os cuidados dos primeiros pais no livro do Gênesis, a Igreja que é anúncio da nova criação, foi colocada por Jesus sob os cuidados de Pedro. O Espírito Santo suscita discípulos, como o Papa Francisco, para cuidar com amor da Igreja que perpetua o serviço de Jesus. 


Diante de Jesus, Pedro representa a nossa humanidade. Nas ações de Pedro, reconhecemos os medos que paralisam nosso coração, que nos fazem negar com frieza que pertencemos a Cristo e a sua Igreja. A nossa capacidade de crer que Jesus está conosco todos os dias, também encontra aconchego no coração de Pedro, quando o apóstolo expõe a sua fé, dizendo: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” (Mateus 16, 16). Pedro representa o desejo sincero de seguir os passos de Jesus, reconhecendo as fraquezas que nos circundam, e acolhendo a graça divina, a força dada por Jesus para que o amemos e com Ele partilhemos a nossa vida. 


Pronunciando o nosso nome, Jesus faz a cada um de nós, a mesma pergunta contida no evangelho de João (21, 15): Pedro, tu me amas? Com tal pergunta, Jesus fez com que Pedro repercorresse as páginas da vida, reencontrando-se com os seus pecados, para confessá-los e ser perdoado. Respondendo a Jesus: “Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo”, Pedro reconhece que após as quedas, Jesus não quer que nos separemos, mas que permaneçamos com Ele, na sua Igreja. Somos os ramos unidos a Cristo que é a Videira (Jo. 15, 5). 


A resposta de Pedro encontrou lugar especial na vida de Santa Teresinha, ao ponto de descobrir no amor a sua vocação de pessoa humana e de religiosa. Assim, como Deus é Amor, a natureza da Igreja consiste em amar sempre. Somos todos capazes de amar através de várias formas. Não se pode amar escondendo-se de Jesus e dos irmãos, nem esquivando-se dos serviços da Igreja. Jesus deseja que abracemos a sua Igreja com amor, seguindo o exemplo de Pedro e de Santa Teresinha. Jesus quer que amemos a sua Igreja com a oração, com a dedicação, e colocando-nos à disposição. Ouvindo a pergunta: O que você faz na Igreja? Devemos responder: Sinto o amor de Jesus, e em seguida, volto para casa, vou amar os meus irmãos. Santa Teresinha nos ensine a amar Jesus e a sua Igreja, dando o melhor de nós mesmos, e dizendo através das boas obras: “No coração da Igreja, eu serei o amor”.


Pe. João Claudio é pároco da paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus (Robalo).

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