O Batismo e a missão

Encerrando o riquíssimo Tempo do Natal, a Santa Igreja celebra a Festa do Batismo do Senhor: “Jesus veio de Nazaré da Galiléia, e foi batizado por João no rio Jordão” (Mc 1,9).
Pensando o Batismo a partir dos efeitos que conhecemos, como meio de salvação, que nos faz filhos de Deus, participantes da Igreja e, portanto, da família de Deus; que nos perdoa os pecados a partir do original, poderemos nos perguntar: “Então, por que Jesus foi batizado? Ele é o Autor da salvação, o Unigênito de Deus, Fundador e Cabeça da Igreja; Ele, o Santíssimo? Respondo, estimado leitor, com as palavras de São Proclo de Constantinopla: “Cristo foi batizado, não para ser santificado pelas águas, mas para santificá-las e para purificar as torrentes com o contato de seu corpo. A consagração de Cristo é sobretudo a consagração da água. Assim, quando o Salvador é lavado, todas as águas ficam puras para o nosso batismo; a fonte é purificada para que a graça batismal seja concedida aos povos que virão depois. Cristo nos precede no batismo para que os povos cristãos sigam confiantemente o seu exemplo”.
Permitindo-Se batizar por São João Batista (cf. Mt 3,13-17), o Senhor inaugurou o Seu apostolado pelo mundo, dando início ao incansável anúncio do Seu Evangelho. No mistério trinitário, o Espírito Santo, eternamente enviado pelo Pai sobre o Filho (o eterno Ungido pelo mesmo Espírito Santo, em grego: Cristós), não apenas confirmou - ao dizer: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer” (Mc 1,11) -, pairando como pomba sobre Jesus (numa representação espacial e temporal do que desde sempre e para sempre acontece), como O sustentou na missão salvadora (cf. Lc 4,14).
A partir do Batismo de Jesus, temos mais uma certeza – e grandiosa certeza! – de que Deus está em nosso meio. Jesus, como Deus-conosco, manifestou a ação redentora de todo o gênero humano. Daí é que, antes de ascender aos Céus, o Senhor ordenou à Sua Igreja: “Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,18-20). Logo, a vida divina trazida por Jesus deve ser universalmente distribuída pela Igreja através dos sacramentos, a começar pelo Batismo. Na autoridade do poder de Cristo, a Igreja, batizando, como Mãe, gera filhos para a salvação, concedendo-lhes a vida de Cristo, a vida do Alto. Por isso, na sua maternidade, não apenas gera para a fé como educa, pela fé, os que gerou. E, nesta atitude de fazer dos seus filhos discípulos, ela, envolvida no mistério, prepara a vinda do Senhor como é garantia da presença do Senhor em nosso meio.
A Igreja faz-nos cristãos. Ser cristão é configurar-se ao Ser de Cristo, sendo filhos no Filho, possuindo os mesmos sentimentos de Cristo, tendo, também, os Seus mesmos interesses. Logo, a missão de Cristo, levada adiante pela Igreja, deve ser encarada como nossa tarefa; nós, membros do Corpo Místico do Senhor, que é a Igreja. Para esta missão sublime, contamos com a fortaleza do Espírito Santo de Deus, que nos foi concedido quando do nosso mergulho nas águas santificadas do imaculado útero da nossa Mãe Católica, tal como são figuradas as fontes batismais. Não tenhamos medo e nem esmoreçamos diante de magno encargo conferido a nós pelo próprio Deus!
Padre Everson Fontes Fonseca, vigário paroquial da paróquia São João Batista (Conj. João Alves).