O Natal do compromisso e da acolhida

Ao contrário do que temos ouvido através das mídias digitais ou até mesmo nas conversações pessoais, este ano de 2020 não é um ano para ser esquecido, mas sim para fazer memória de tudo aquilo que foi vivenciado neste ano que abalou tantas estruturas econômicas, sociais, familiares e religiosas. Até as portas das Paróquias permaneceram fechadas em determinados momentos deste ano, mas a Igreja seguiu firme multiplicando-se nos lares nos quais as famílias reunidas rezaram o Santo Terço e leram o Santo Evangelho. Assim cada casa se tornou a bela Igreja de Jesus.
A difusão do coronavírus evidenciou outro vírus letal que atinge a pessoa humana. O vírus da indiferença foi o responsável pela vasta e rápida difusão deste vírus que ultrapassou diversas fronteiras. O fato de pensar que não devemos nos preocupar com o outro, de afirmar que não é um problema meu, fez com que lavássemos as mãos como Pilatos que não se comprometeu com o que estava acontecendo com Jesus. O Natal é a Festa deste Deus que no seu Filho Jesus se compromete conosco para sempre, pois assume esta humanidade para que nos comprometamos com Ele e com os irmãos e irmãs que brotam do Evangelho.
Desde cedo a Família de Nazaré foi recebida com indiferença pela humanidade visto que nem sequer encontraram um lugar adequado para o nascimento de Jesus. Podemos imaginar com o coração quantas respostas negativas que foram dadas aos pedidos de José e de Maria. ‘Não temos mais lugar’, ‘Está tudo cheio’, ‘Veja lá na frente’, e tantas outras expressões que adiam o nosso encontro com Jesus que se aproxima nas pessoas necessitadas, abandonadas, famintas e desesperadas. O Natal é a Festa deste Deus que quer ser acolhido por cada coração por Ele criado. A Santa Eucaristia é o momento especial para que cada coração diga a Deus que não o deixará ao léu, mas o acolherá para que não sinta jamais o gélido frio da indiferença.
O Menino Deus, Filho da Virgem Maria é a Verdade e a Paz que o coração aspira. O Menino Jesus que traz em suas mãos a graça da salvação é a Luz que dissipa a escuridão das incertezas, das dúvidas, dos rancores e de todas as incompreensões que nos afastam uns dos outros impedindo-nos de imitar o Lar Sagrado de Nazaré que mesmo diante da falta de recursos econômicos acolheu Jesus com ternura, com gratidão e adoração. O coração que não adora a Jesus é petrificado e se torna um coração de pedra incapaz de acolher e amar como somos amados e acolhidos por Deus.
O Natal é a Festa da Mãe, Maria Santíssima que ama e acolhe o Menino Jesus desde o primeiro instante da concepção até o momento glorioso da sua ascensão. O Natal é a Festa de José que acolhe as vidas de Jesus e de Maria para amá-las e protegê-las com todo o coração diante dos perigos que atentam contra a vida deste Menino. Celebrar o Natal de Jesus é manter as portas do coração abertas para que as graças divinas cresçam em nossa vida e em nossas famílias. Celebrar o Natal de Jesus é permitir que o coração transborde de júbilo, cantando com Maria Santíssima o mesmo Magnificat, pois diante do Mistério da Encarnação do Verbo, a vida exulta de alegria em Deus Salvador, por oferecer todos os dias as maravilhas do seu amor.
Pe. João Claudio da Conceição é pároco da pároquia Nossa Senhora Aparecida (Bairro Farolândia)