Obrigado, padre João!
Jerônimo Peixoto

Com o coração entristecido, recebemos a notícia da morte do Padre João Batista de Oliveira, em decorrência das sequelas deixadas pela COVID-19. João Batista, após várias passagens por paróquias como Sagrada Família (Sol Nascente), Santa Luzia (Barra dos Coqueiros), Nossa Senhora da Conceição (Mosqueiro), e após tanto lecionar na rede estadual de ensino – um exímio professor, cultor da boa educação freiriana, que pretende incluir o contexto e o sujeito do educando como instrumentos da formação humana – esteve em Itabaiana, precisamente na Capela Santana, há mais de uma década, onde sempre fez o bem, num alinhamento Pastor- Ovelhas, constituindo sólida fraternidade.
Presença de qualidade, solidária, prestativa e discreta. Tons e sobretons de um servo de Deus a serviço da vida e da dignidade, sempre atento às realidades de opressão e de exploração, objeto de suas sábias reflexões, sob a forma de homilia. Por vezes, beirava a radicalidade, o que parecia assustar os mais desavisados, conformados com um senso de justiça mais ou menos. Era a sede de quem, como Moisés, sabia ver as causas do poderio faraônico em detrimento da dignidade humana. A proposta do Evangelho é Vida Plena para todos, desde a estada aqui, nesta esfera existencial, rumo ao Reino Definitivo.
Em todo o seu itinerário sacerdotal, viu-se nele um homem simples, desapegado, não afeito a honrarias, a reconhecimentos desmedidos. Autêntico em tudo o que fazia, Padre João – alhures incompreendido – fez de seu ministério um meio para servir, para colaborar, sem nada em troca exigir. Sua postura crítica era grande; seu coração, porém, enorme, e o conduzia a uma atitude de misericórdia e de fraternal convivência.
Era um leitor assíduo. Gostava de boa filosofia e de teologia, sociologia, antropologia, sempre antenado ao mundo da política; nunca se filiou a partido político ou se serviu de certas posturas para auferir vantagens para si. Seu ministério foi meio de serviço à formação cidadã, à capacitação das consciências, deixando-as prenhes de discernimento, sobretudo no ato sagrado de votar, livre e conscientemente.
À guisa dos grandes Profetas, pautou sua vida pelo anúncio/denúncia, pela simplicidade de quem se encontrou com Deus, tocando os lábios com a tenaz (Is 6, 1-16), de quem se mostrou (literalmente!) gago diante da missão ( Jr 1,4-10), ou de quem ouviu o leão rugir (Am 3,8) e, mais expressivamente, imitando o Mestre de Nazaré, que se despe do manto, cinge a cintura e lava os pés aos discípulos (Jo 13, 1-15). João Batista fez jus a seu nome e à vocação que recebeu. Era um fascinado pelo Reino, pela vida do povo, pelo anúncio qualitativo e profético do Evangelho. Sua firmeza impressionava.
A vontade de viver e de ver a vida de todos o fez lutar bravamente contra inúmeros problemas de saúde, quando enfrentou situações adversas, com uma coragem invejável. Quando tudo parecia tranquilo, sobreveio-lhe a chocante Páscoa de sua irmã, pela covid. A tristeza lhe invadiu o coração, mas não o abateu. Poucos dias depois, chegou a sua vez. Foi acometido do Corona, de sorte que fez seu êxodo para Aracaju prefigurou sua Páscoa Definitiva. Hoje, entrou no Reino, para receber de Deus a recompensa por tudo o que aqui lhe foi possível.
Obrigado, Pastor-Profeta, místico da Esperança, Anunciador do Reino, Educador da cidadania, Servidor do Evangelho. Deus o acolha. Vai com Deus tomar parte no Reino que o Pai lhe preparou. Interceda por nós junto ao Bom Pastor.
Jerônimo Peixoto é filósofo, teólogo, advogado e pós-graduado em Metodologia Didática do Ensino Superior. É autor do livro "Memórias de um Cajueiro" e cordelista. Possui ampla atuação no campo religioso e social e também como palestrante.