Os Atos dos Apóstolos: Espiritualidade e Missão

O fenômeno de Pentecostes é sem dúvida alguma o ponto determinante dos Atos dos Apóstolos. É a partir deste momento que acontece uma reviravolta na vida dos apóstolos, que deixam de lado o medo que possuíam e se tornam anunciadores corajosos da Palavra de Jesus acolhida com amor na própria vida. Pentecostes é a festa da comunhão na qual as pessoas se compreendem naquela linguagem do perdão e da reconciliação, indispensáveis na missão.
Nos Atos dos Apóstolos vemos o crescimento das comunidades cristãs, dia após dia procurando ser “um só coração e uma só alma”, superando os limites internos, como aqueles discutidos no chamado Concílio de Jerusalém, no qual se observa a autoridade desempenhada pelo apóstolo Pedro e ainda a necessidade de circuncidar o coração, fazendo com que as práticas externas repercutam no cerne da interioridade humana, para iluminar a alma com a Luz de Jesus.
A missão reserva alegrias profundas que fortalecem o coração dos apóstolos mas, não são poucos os momentos difíceis enfrentados por todos, como por exemplo o martírio de Estevão que marca a entrega plena do próprio sangue após a Ressurreição de Jesus. Estevão reza pelos algozes do mesmo modo como Jesus no madeiro da cruz implora o perdão sobre toda a humanidade. O martírio de Estevão é central nos Atos dos Apóstolos também por ter sido presenciado por um jovem chamado Saulo, que perseguia todos os cristãos. A pergunta: “Saulo, Saulo porque me persegues?” é um divisor de águas na vida de Saulo. Tudo foi muito diferente a partir daquela Luz no caminho de Damasco, recordada tantas outras vezes na missão, desempenhada com o coração.
Com o anúncio da Palavra muitas pessoas tiveram suas vidas transformadas. E ao lado de tantas alegrias, a pregação da Palavra trouxe várias tribulações para os apóstolos e especialmente para Paulo que enfrentou muitas prisões, até apelar para César e ser levado para a cidade de Roma na qual transcorre cerca de dois anos numa casa onde permanece pregando a Palavra de Jesus. Pedro e Paulo, os martirizados de Roma, combateram o bom combate da fé.
Hoje nós somos os apóstolos de Jesus e questionamos quais sãos os atos que realizamos no desempenho da missão quotidiana, exercida dia após dia nesta caminhada da vida. A Palavra de Jesus não nos levará ao cárcere, e nem aos leões como acontecia com os primeiros cristãos, mas a prisão e as feras destes dias são representadas por intrigas, indiferenças, intolerâncias e desuniões. Estas prisões não podem nos deter, estas feras não nos amedrontam.
Como os Atos dos Apóstolos foram escritos pelo evangelista São Lucas, há uma unidade de finalidade que o entrelaça ao Evangelho escrito pelo santo médico. Os Atos dos Apóstolos são também endereçados ao mesmo Teófilo isto é, reforçam nossa amizade com Jesus, que está sempre conosco curando as cegueiras físicas e espirituais para que enxerguemos a missão da vida com os olhos da fé. (Atos 2,1ss; 4,32; 7,60; 9,4; 28,30; 15,1ss; Lucas 1,3; Atos 1,1)
Pe. João Claudio