Padre Raul Bomfim Borges, Servo da Vida e Poeta da Esperança

Por ocasião das comemorações pelo Dia do Pároco (04.08), convém fixar o olhar naqueles que vieram bem antes, preparando as veredas do Senhor, a fim de que os sacerdotes das novas gerações pudessem encetar a edificação ministerial, haurindo nas fontes imorredouras da Graça Santificante, e no testemunho dos predecessores, como é o caso do querido e venerando Padre Raul.
Nascido às margens do Rio Paramopama, na vetusta São Cristóvão, em 03 de janeiro de 1937, já respirando o suave odor da poesia, na quebrada das águas salinizadas que o Vaza Barris insuflava, fazendo crescer, com o vai e vem da maré, as ondas do Paromopama, o menino Raul, órfão de mãe aos cinco anos, aprendeu, com a sonoridade salgada das correntes em que crustáceos se exibiam, como num balé de fina sincronia, que a vida é uma arte composta de fé, esperança, mística, música e poesia, que se pode retratar na admirável habilidade de deixar, gravadas nas telas, cenas de tempos novos e inusitados, ou de simples reprodução da realidade fática.
Sob a influência de seu Padrinho e, mais adiante, aos cuidados do saudoso Padre Eraldo Barbosa, que o acolheu como a um filho, nas plagas serranas, onde, sob os auspícios de Santo Antônio, aprendeu admirar a mística franciscana, Raul, desde tenra idade, devotou-se às letras, à música, à pintura e à poesia, sem olvidar a fé, pela qual habitou-se a delongadas reflexões que fariam do mancebo um respeitável místico, cultor de invejável ascese, além de zeloso sacerdote.
Padre Raul conta com quase 60 anos de sacerdócio. Fora ordenado por Dom Távora, o bispo dos operários, uma alma de grande pastor que inspirou o jovem padre a derramar-se de entusiasmo pastoral, nas comunidades por onde passou: Campo do Brito, São Domingos e Macambira; Laranjeiras, Carira, Aracaju, Macambira e Itabaiana, onde vive atualmente. Em todas essas comunidades, há traços de uma presença forte, de intensa espiritualidade, de arte e poesia, pois ele, ao se debruçar sobre o Mistério do Criador-Redentor, exercitou-se na mística, na poesia e arte, como Profeta da Verdade, Servo da Vida e Poeta da Esperança.
Dificilmente o Profeta se distingue do Poeta e do Místico. Padre Raul, a um só tempo, ensinou a arte de esperar, ajudou a edificar vidas – com a singeleza de um beija-flor que, em meio à aspereza do sertão, mira a sensibilidade da flor e dela retira o néctar, para a prosperidade das espécies – além de cantar a esperança por belas métricas, rimas e cores que fazem dele autêntico místico da vida e arauto da esperança. Nunca se fez de rogado diante dos desafios enfrentados.
Com voz mansa, personalidade forte, coração apaixonado, entregou-se ao sacerdócio, demonstrando que era a misericórdia divina quem atuava em sua missão. Embora afável, nunca se deixou esmorecer ante o zelo pelo Reino de Deus. Não escondeu a pusilanimidade de uma argila que comportava a magnitude de um Tesouro incomensurável. De sua fragilidade extraiu a grandiosa arte de enfrentar a vida com a serenidade de quem se descobre pequeno, mas portador de uma Grandiosidade desmedida. Assim, mesmo nos momentos de crise, quando pensou em se dedicar à clausura Premonstratense ou Trapista, sentiu-se desafiado a se desgastar pelo Reino, na missão de pastorear sertanejos e agresteiros, numa atitude que relembra o Cultivador de Sicômoros.
Ei-lo, no ápice de sua vocação, quando já não mais está à frente de uma comunidade paroquial, pelas circunstâncias existenciais. Nesta fase, na imolação de si, doa-se à Igreja inteira com uma prece constante e fecunda saída de um coração apaixonado por Cristo, encantado com a Mãe Natureza, e imerso numa mística que exala música, poesia, devoção, arte e beleza.
Padre Raul, ao ensejo do dia do Pároco, quando se comemora São João Maria Vianey, receba a singela homenagem da Rede Cultura de Comunicação, como reconhecimento de um homem de Deus que passou a vida inteira devotado ao bem de todos, por meio do ministério sacerdotal. Que sua trajetória seja inspiração, protótipo e guia para muitos novos sacerdotes e vocacionados. Deus seja a sua força!
Jerônimo Peixoto é filósofo, teólogo e advogado.