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Qual o papel dos pastores? Para que servem?



No nosso último artigo, refletíamos acerca do envio missionário dos discípulos por parte de Jesus, de maneira que “os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo” (Mc 6,12-13). Na continuidade, vejamos sobre o retorno dos apóstolos para a companhia do Mestre, contando-lhe “tudo o que haviam feito e ensinado” (Mc 6,30).


Igualmente, percebemos que o Senhor, que de tudo sabe porque é Deus, levou os exaustos Apóstolos a um repouso num lugar deserto. Porém, ao perceberem a partida de Jesus e daqueles cansados homens, as multidões se adiantaram, e, vendo-as, o coração do Bom Pastor sentiu compaixão, “porque eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).


Que comparativo terno este utilizado por São Marcos para elucidar a compaixão de Jesus! Ovelhas. Jesus reconhece naquele povo esperançoso de Si parte do Seu rebanho. Mas, os Apóstolos, constituídos pastores, igualmente pertencem, como ovelhas, à grei de Cristo. Isso nos faz lembrar que, ao enviá-los, o Senhor lhes advertiu: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos” (Mt 10,16), numa conjugação que liga pastores e ovelhas. Logo, todo pastor, antes de sê-lo, é ovelha, ovelha de Cristo, participante do único redil do Senhor, a Igreja Católica.


Sabemos que Cristo é o pacificador e o fundamento de unidade entre os homens e Deus e dos homens para consigo e entre si mesmos. Esta é, também em Cristo, as funções dos pastores da Igreja, daqueles que, prenhes dos sentimentos de mansidão figurados pela docilidade da ovelha, são enviados ao mundo como sinais para um ambiente que é adverso aos valores do Reino, apregoados pela Igreja. É para isto que o Senhor configura os Seus pastores, os sacerdotes, para, neste mundo, fazer-Lhe as vezes.


O Bispo francês Louis Gastón de Ségur, no seu livro “Perguntas e respostas às objeções mais vulgares contra a religião”, do século XIX, contestará a uma pergunta muito em voga à época – e também hoje: “Os padres são uns desocupados; para que servem?”. Objetará: “Para salvar almas! Decerto, é este um emprego que vale mais que qualquer outro. […] Tão superior é a alma à matéria, quanto a obra do padre é superior a todos os trabalhos da terra. O padre continua o grande trabalho da salvação do mundo, Jesus Cristo, seu Deus e modelo, começou-a; os seus padres prosseguem na sua obra através dos séculos. O padre, a seu exemplo, emprega a sua vida em fazer o bem. Ele é homem de todos; o seu coração, o seu tempo, a sua saúde, os seus cuidados, a sua carteira, a sua vida, pertencem a todos; e principalmente aos pequenos, aos meninos, aos pobres, aos desvalidos, aos que choram, e que não têm amigos. Ele nada espera em troca desta dedicação; e, ordinariamente só recebe insultos, calúnias abomináveis e maus tratamentos. Porém, como verdadeiro discípulo de seu divino Mestre, só lhes responde continuando a fazer o bem. Que abnegação sobre-humana! […] Eis aqui para que servem os padres! Bem desejara eu saber se aqueles que os atacam servem para alguma coisa melhor. […] Todas as desgraças do nosso país [da França do Monsenhor de Ségur, e – quem sabe?! – do nosso Brasil] provém de se não praticar o que o padre ensina!” (Questão XIII). E conclui o Monsenhor de Ségur, creio que sentindo o carinho que Nosso Senhor tem, chamando os Seus Apóstolos, os Seus sacerdotes, ao descanso: “Respeitemos os nossos padres. Se observarmos neles imperfeiçoes, e mesmo vícios, lembremo-nos que é necessário atender à fraqueza do homem. Tratemos então de não olhar para o homem, e só ver o padre: este, como padre, é sempre respeitável, e o seu ministério é sempre santo, porquanto ele é o continuador de Jesus Cristo, soberano Padre através dos séculos, e é deste mesmo que o Salvador disse: ‘Quem vos escuta, escuta-me a mim; e quem vos despreza a mim despreza’ (Lc 10,16)” (Op. Cit.).


Com os nossos vivos sentimentos de carinho e de cuidados para com aqueles a quem Jesus zela, chamando-os a descansar no ermo da Sua intimidade, os pastores da Santa Igreja, peçamos ao Bom Pastor por eles, para que pastoreiem segundo o boníssimo Coração de Deus.


Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).

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