Que Cristo reine nos céus e na terra!

Encerrando o Ano Litúrgico, a Igreja celebra Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, vislumbrando os muitos significados de tal título do Senhor, graças a compreensão de Reino de Deus que a mesma Igreja possui.
Na sua Carta Encíclica, Quas Prima, em 11 de dezembro de 1925, quando instituiu esta festividade, o Santo Padre Pio XI bastante expôs acerca das características do reinado de Cristo. Afirmou que, além de ser principalmente espiritual, “erraria gravemente quem negasse a Cristo-Homem o poder sobre todas as coisas humanas e temporais, posto que o Pai lhe conferiu um direito absolutíssimo sobre as coisas criadas, de tal sorte que todas estão submetidas a seu arbítrio” (n. 15). Por isso que, respondendo a Pilatos, o Senhor afirmou que o Seu Reino não é deste mundo (cf. Jo 18,36), mas, nem por isso, alheio está ao presente.
Este dado universal do reinado de Cristo é contemplado já pela profecia de Daniel, pois ao filho de homem, “foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam” (7,14). Isto da totalidade abrangente do Reino do Senhor também é desenvolvido por São João no Apocalipse: “Olhai! Ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão, também aqueles que o traspassaram. Todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele” (1,7).
É perceptível que, muito embora Cristo impere sobre todos, na Sua glória eterna e universal, os efeitos deste poder divino é diverso nos corações dos homens. Explico-me: por mais que todos, pela Fé e pelo Batismo sejam convocados a este Reino, e a nele viver e frutificar em boas obras, nem todos assim são sensíveis. Aos que agem conforme a vocação ao Reino que receberam, correinarão com Cristo. Já os que não procedem honestamente, sentir-se-ão submetidos ao Reino de maneira ignominiosa para confusão e perdição eternas. Mas, o fato é que, misteriosamente, o Império de Cristo já acontece, aqui e agora, e todos, querendo ou não, dele dependem.
Refletindo no Catecismo Romano sobre o segundo pedido do Pai-Nosso, “Venha a nós o vosso Reino”, o Papa São Pio X, afirma que o Reino acontece numa tríplice e simultânea maneira: “o reino de Deus em nós, ou o reino da graça; o reino de Deus na terra, isto é, a Santa Igreja Católica; e o reino de Deus nos céus, ou o Paraíso” (Questio 292). Logo, se a Igreja prepara o mundo, pelo anúncio do Evangelho, à chegada gloriosa do Reino de Cristo, no anseio de salvar todos os homens, levando-os para o Paraíso celeste, movidos pela ação do Reino em nós, devemos preencher este mesmo mundo, a começar pelos ambientes em que estamos inseridos, com os sinais do poderio do Senhor. E, assim, onde estiver um cristão que, coerentemente, viva a sua fé, ali estará um representante deste Reinado de Jesus, preparando a Sua volta, pondo tudo, ainda que haja oposição, sob os pés do Divino Rei universal.
Que tudo e todos sejam sacralizados pelo Reino de Deus: eis o nosso bordão, sabendo que “não tira os reinos mortais aquele que dá os celestiais” (Hino Crudelis Herodes, Ofício da Epifania do Senhor), porque queremos que tudo seja posto sob a égide do cetro do eterno Rei, pois, como escreveu São Paulo aos Romanos, “dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele a glória por toda a eternidade!” (Rm 11,36). O Reino de Deus urge, e, por isso, fala. Recordemo-nos do que disse ainda Jesus, diante do Governador Pôncio Pilatos: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37). A verdade a tudo clarifica, explica. Somente no Reinado de Cristo tudo encontra o seu sentido. E, postos sob a autoridade da verdade de Cristo, descobrimo-nos quem somos e em que consiste a nossa felicidade: somos colocados sob o Seu divino poder; obedecendo e prezando por Sua voz, o Reino de Cristo, reservado para nós, torna-se, de antemão, nosso, para que nele entremos e, dele, gozemos plenamente.
Que nenhum de nós alce a oração ensinada pelo Cristo, implorando a vinda do Seu Reino, sem nos sentirmos interessados, integrantes e participantes deste mesmo Reino. Que todos nos comprometamos com esta proposta da Verdade, a única que traz salvação e felicidade. Queiramos que Cristo sempre reja em nós, sobre nós e a partir de nós, com todo o Seu poder e glória, dominando tudo!
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru).