Um elogio aos padres de ontem e de hoje

Um elogio ao sacerdócio de Cristo. E uma prece, antiga e nova, e tão urgente: “mandai Senhor à Vossa Igreja: sacerdotes santos, religiosos fervorosos. Pelo amor de Maria, dai-nos santos sacerdotes, ó Jesus”.
Ainda nas primícias sacerdotais, recordo dessa oração, tão cantada nos nossos encontros vocacionais, no Seminário Propedêutico da nossa querida Igreja de Aracaju. Era bom ir aos encontros vocacionais no “Seminário Menor” do bairro Industrial. Lá chegávamos e éramos bem acolhidos, apesar das limitações do espaço e de cada irmão. Nos idos 2008, os seminaristas propedeutas coordenavam os encontros vocacionais, sempre seguindo a orientação do Reitor e dos membros da Pastoral Vocacional da nossa Arquidiocese.
Tantos rostos e vidas vêm ao meu coração... Tinha rima, tinha luta, tinha indecisão, tinha perguntas. Tinha cansaço naquele dormitório que acolhia tantos jovens das nossas paróquias. Era cansativo, mas era bom. Era um misto. Descer no terminal do mercado e ir até o Seminário. Cantávamos, saíamos com desejo de voltar. Rezar embaixo daquelas mangueiras, naquela gruta de Nossa Senhora... E ali tínhamos um final de semana intenso, e ainda ocorriam as "serestas da vida" nos bares que existiam em frente ao seminário. Aquela sacada ao fundo do casarão, com vista para a bela ponte Aracaju-Barra... Aquela casa que formou tantos padres, consagrados e leigos e leigas nas assembleias de pastoral. A última ocorreu em 2009, quando lá morava.
No tempo de discernimento vocacional, e já no tempo formativo do seminário, tendemos a ter uma visão “romântica”, seja da vocação, seja do sacerdócio e da Igreja. E isso é bom, é canto puro, é essência. Poesia desprovida de ideologia. O tempo passa. E assim chegamos no Seminário que nos antecede no tempo e na história. Tantos padres da nossa Arquidiocese, já no Céu, nos ajudaram na formação e por lá passaram. Quantos leigos e leigas deram a vida por nós. Abriram seus bolsos e ajudaram na nossa formação, na manutenção dos nossos seminários. Quantas lágrimas, quantos sonhos neste Sergipe, que há tempos atrás, em nossa Aracaju, ficou sem ordenar um padre, e, após empenho de Dom Luciano Duarte (in memoriam) e Dona Conceição Luduvice, e daquela oração “universal” Divino Salvador Jesus Cristo, horas "esquecida", repetida, cansativa, mas tão necessária e fecunda, veio o sim do saudoso Cônego Raimundo Cruz, que fez tanto pela pastoral da nossa Arquidiocese. Meu pastoreio deve a vida e a missão dele aqui na São Pedro Pescador. Marcas do Eterno ele deixou. E veio o sim de tantos padres, mais de uma centena no pós-Concílio.
Temos que agradecer a Deus pelo solo vocacional da nossa Arquidiocese. Louvado seja Deus pelos nossos padres, bispos, consagrados, leigos e leigas, por tanta doação neste chão sagrado e consagrado a Imaculada Conceição. Enfim, aos padres de ontem e de hoje, obrigado! Por todo empenho, doação, vida doada à Igreja de Cristo que está em Aracaju. Aprendi a amar o sacerdócio de Cristo quando beijei as Suas Santas chagas que continuam nas minhas e nas dos irmãos e irmãs. E, aí, vi que o Padre é alguém que está na Cruz e será assim até o fim. Para salvar. Humano e revestido de uma Graça sem merecimento. A lógica é essa: dom e cruz.
Aos jovens, digo: se sentem o chamado de Deus para o sacerdócio ministerial, diga sim, sem medo, fazendo o devido discernimento e sendo sincero com sua consciência. Deixo três “nãos” que aprendi com Dom Bruno Forte nesses dias, numa declaração de amor que ele escreveu à Igreja. Está disposto a ser padre? Assim Seja: “não ao descompromisso”, “não a divisão”, “não à estagnação e à nostalgia do passado, as quais ninguém deve consentir, porque o Espírito está sempre vivo e operante na vida e na história. A este “não” deve corresponder o sim à reforma contínua, mediante a qual cada um possa realizar sempre mais fielmente o chamado de Deus, e a toda a Igreja possa celebrar sua glória” (A confirmação e a beleza de Deus, p. 47).
Meus amigos e amigas, tenho descoberto o sacerdócio de Cristo nas feridas mais intensas da vida do meu povo. São as minhas! As nossas! E isso tem me salvado. Enfim, nossa prece pelos padres enfermos, tantos anônimos, que nem lembramos mais. Aqueles que estão em crise, numa dificuldade. Nossa prece por cada um. E gratidão.
Termino com uma provocação de salvação. O problema da Igreja em nós não está no Papa, não está na forma da Missa, no rito. Não! O problema está em nós. Isso. Eu e você. Que não nos tornamos o Nós trinitário. Que “não” cremos na Igreja, porque, talvez, não cremos mais em Jesus. Como obedecer? Não participamos da missa como deveria, e, aí, a nossa vida não tem ritmo, não é rito, não tem sacralidade. Consequência? Não somos missa. O Papa se torna ninguém, a obediência não existe e no fim das contas eu fundei a “minha igreja” que de católica e apostólica nada tem. Só os meus rugidos de divisão e meus aforismos de condenação, ferindo a Comunhão profunda da Igreja de Cristo. Pois bem, “a túnica de Cristo está dividida em nós”, rugia o “leão” Cantalamessa, na sexta Santa em Roma. E ele, numa prece desigual, dizia naquele solo de mártires: "a catolicidade existe para agregar, como a Túnica de Cristo." Una. Sem ruga e sem mancha. Lembram das vestes pascais no domingo de Páscoa? Lembram? Que escândalo!
Uma declaração de amor: à Igreja de Cristo que me fez sacerdote, minha gratidão por tudo; aos padres da minha Arquidiocese, o sim de tantos me alcançou, e por isso, obrigado; aos jovens vocacionados, lembrem-se dos “nãos”. Entregue sua pobreza a Cristo. E o resto virá por acréscimo. A Igreja é sem ruga e sem mancha. Eis o sacerdócio: dom e graça. Credo Ecclesiam!
Vosso, Pe. Anderson Gomes (pároco da paróquia São Pedro Pescador, bairro Industrial).