Vocacionados da esperança

Desde a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, acontecida, no ano passado, aos 20 de novembro, a Igreja no Brasil tem experimentado a vivência do 3° Ano Vocacional, sob o tema: "Vocação: graça e missão".
Antes de tudo, uma pergunta deve ser fundamental neste processo de chamado e resposta: se o autor de toda e qualquer vocação é Cristo, que passa, chamando, quem é o vocacionado? Respondo-lhe: é aquele que se sente chamado a pôr o Cristo no centro da sua vida. Logo, em todos os filhos da Igreja, temos um chamado vocacional, que deverá ser respondido como critério de felicidade, de santidade, de eternidade. O vocacionado é aquele que tem os olhos da fé abertos, reconhecendo o imenso passo de amor dado por Deus em direção a nós: Ele humanizou-Se para nos divinizar; ao que devemos também caminhar ao Seu encontro, correspondendo ao anseio mais profundo que o Senhor tem ao Seu Coração.
O vocacionado é um desinstalado. Tal desinstalação produz-lhe a graça das virtudes, de querê-las e de propagá-las, apontando-nos para uma missão. Sendo o homem inquieto, um "ser em busca" (Texto-base para o Ano Vocacional, n. 157), o que, no âmago mais profundo da sua existência, procura? Em tudo, por si, pelos anseios, pelas relações, enfim por tudo, busca a Deus, que, num mistério de amor, está dentro de nós, Seus templos pelo Santo Batismo. Por vezes, parafraseando Santo Agostinho, o homem busca fora, nas coisas, o que está dentro de si, porque, por Deus, assim Lhe foi, Ele mesmo, depositado ao coração. Entretanto, o homem que busca, na investigação vivencial por Deus, também procura meios de esperança, não apenas para si próprio, mas para apresentá-los à humanidade da qual faz parte; para isso, desinstala-se, é movido a sair de si.
O vocacionado é alguém que se configura. Configurados a Cristo-Profeta, que vindo a nós em nossa condição humana, consolou-nos com a esperança que é Ele mesmo, somos chamados e enviados à consolação, que tece sobre tempos novos: "Consolai o meu povo, consolai-o! - diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida; ela recebeu das mãos do Senhor o dobro por todos os seus pecados" (Is 40,1-2).
Para que a consolação aos que estão deprimidos e desesperançados logre uma resposta, radical e corajosamente, o vocacionado e missionário da esperança (que é Cristo) conclamará à conversão, sua e daqueles para os quais foi enviado. Para tanto, deverá sempre recordar-se e recordar aos outros que o feliz êxito da existência está no reconhecimento de quem realmente é, abandonando-se, na sua pequenez, ao Ser de Deus, o único que a tudo significa. Para ilustrar isso que afirmamos, faz-se necessário saber - e fazer saber - que "a criatura humana é feno, toda a sua glória é como flor do campo; seca o feno, murcha a flor ao soprar o Senhor sobre eles. Sim, o povo é feno. Seca o feno, murcha a flor, mas a palavra de nosso Deus fica para sempre" (40,6-11).
Vocacionados da esperança: eis a missão dos que, conscientes, desejam reunir para o Senhor um só e numeroso rebanho, no qual todos os membros, todas as ovelhas são importantes, possuem uma dignidade sublime porque foram conquistadas, todas e cada uma delas, pelo Sangue precioso do Senhor, com um altíssimo preço, um inalienável valor. O Senhor, que Se importa com todos, mas principalmente com as ovelhas debilitadas, vulneráveis, de alto risco de perdição. Em favor delas, o Bom Pastor dá a vida, e espera que demos a nossa também para resgatá-las. E, depois de resgatá-los, caminhemos juntos com elas neste felizardo caminho chamado Igreja. Igreja é caminho (este foi o primeiro nome com o qual foi denominada) porque Cristo é Caminho. É a Igreja quem continua a missão salvadora do Senhor, que deu a todos vida plena (cf. Jo 10,10), vida digna. Para isto Ele veio no mistério da Sua Encarnação.
A Virgem Maria Imaculada cuida de nós como cuidou de seu único Filho Jesus, pois as suas incessantes intercessões a Deus em favor de seus filhos são uma fonte da graça divina para vivermos a nossa vocação cristã. No seu papel de Mãe Medianeira, a Virgem Maria ajuda-nos a caminhar nesta correta direção para Jesus, sem nos esquecermos de que é por Ele que trabalhamos, tendo por finalidade a esperança que é o próprio Senhor que nos salva. Que a Igreja, através de nós, seus filhos e membros, sempre se guie por Maria, qual bússola, rumo ao Senhor, ela que caminha junto a nós, como Mãe e Senhora.
Padre Everson Fontes Fonseca, pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Grageru